Título: Partidos aliados mantêm dirigentes que foram alvo da CPI dos Correios
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2007, Politica, p. A6

A articulação política das eleições de 2008 e o caixa de campanha de partidos aliados ao governo federal contarão com dirigentes investigados por irregularidades e réus em crimes como lavagem de dinheiro e corrupção. Alvo das denúncias no caso do mensalão, operadores do esquema de compra de votos e de pagamento ilegal de dívida eleitoral continuam no comando das legendas aliadas e das finanças partidárias.

O pivô da denúncia, Roberto Jefferson, perdeu o mandato de deputado federal, mas continua na presidência do PTB. Beneficiário dos recursos distribuídos pelo governo federal, ele responde pelas acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em viagens e conversas nos Estados, já articula alianças eleitorais e recursos para 2008.

No comando do PP, há dois vice-presidentes e um tesoureiro que foram investigados na CPI dos Correios. As denúncias contra Pedro Henry, 5º vice, e José Janene, 1º tesoureiro, foram aceitas pelo Supremo Tribunal Federal, transformando-os em réus nos crimes de corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Apesar de não constar na lista dos 40 denunciados do mensalão, Vadão Gomes, 1º vice, foi apontado como beneficiário de R$ 3,7 milhões do publicitário Marcos Valério - acusação negada por Vadão.

Nas articulações políticas do PR está Valdemar da Costa Neto, réu nos crimes de corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Oficialmente, Valdemar não está na lista dos dirigentes que o partido informou ao Tribunal Superior Eleitoral, mas continua no comando da legenda.

O PTB é a legenda em que resiste o maior número de dirigentes relacionados às irregularidades reveladas pela CPI dos Correios. Lá permanecem o 1º tesoureiro do PTB, Roberto Garcia Salmeron, e o secretário de projetos Antonio Osório Menezes Batista. Ex-vice presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), Salmeron foi citado no relatório da CPI dos Correios por ter atuado na readmissão de Maurício Marinho na empresa, burlando concurso público. Marinho foi o diretor da estatal flagrado recebendo propina e denunciante de Roberto Jefferson.

Salmeron negociou cargos na estatal e indicou integrantes da legenda para os Correios. Por indicação do PTB, ocupou posteriormente a presidência da Eletronorte e quando o escândalo envolvendo os Correios estourou, ele pediu demissão. Já Menezes Batista aparece no relatório da CPI por ´atuação irregular´ como diretor de administração da ECT em 2004. Sob sua gestão, foram apurados fortes indícios de ingerência política nas licitações.

O primeiro secretário e ex-tesoureiro, Emerson Eloy Palmieri, em depoimento à CPI da Compra de Votos, disse que tinha conhecimento do esquema de repasse de recursos e relatou que o PTB recebeu mais de R$ 4 milhões por meio de Roberto Jefferson.

Ainda permanece com o mesmo cargo no PTB, o tesoureiro geral, Luiz Rondon de Magalhães Filho, cujo assessor à época em que foi diretor na Eletronuclear, era Marcos Vinícius Vasconcelos, genro de Roberto Jefferson também foi investigado pela CPI dos Correios.

O segundo tesoureiro do partido, Eduardo Seabra da Costa, escapou da CPI dos Correios mas foi citado por suposta participação na máfia das Sanguessugas.

Na Executiva do PP, outros problemas também aparecem. Além de Pedro Henry, Vadão Gomes e José Janene respondendo a processos, o terceiro tesoureiro Nilton Baiano, supostamente teria recebido propina na máfia das Sanguessugas. Já o segundo tesoureiro do partido, Francisco Garcia, traz no currículo um fato "invejável": junto com seu filho, ele ganhou 43 vezes na loteria esportiva federal, embolsando quase R$ 811 mil entre 1996 e 2000.

No PMDB, o caixa do partido é gerido por Mônica Oliveira, mulher do ex-ministro das Comunicações Eunício de Oliveira. Ela era sócia-gerente da empresa Confederal Vigilância e Transporte de Valores Ltda quando o gerente comercial da empresa foi acusado pela Polícia Federal de suposta participação em um esquema de favorecimento em licitações. No mesmo ano, segundo Eunício, Mônica afastou-se da empresa. "Ela não tem nenhuma ligação, não tem nada a ver com o caso", disse Eunício. Em abril de 2007, o MPF ofereceu denúncia criminal sobre os acusados de participação no esquema.

-------------------------------------------------------------------------------- Haverá co-responsabilidade financeira entre o PT e os partidos da base nas cidades em que forem firmadas alianças" --------------------------------------------------------------------------------

Para integrantes das executivas desses partidos, no entanto, as denúncias não desqualificam a participação dos dirigentes na condução dos partidos. O tesoureiro-geral do PP, Leodegar Tiscoski, por exemplo, defende que as lideranças partidárias citadas em escândalos continuem na direção dos partidos. "Se um dos citados pode ser parlamentar, se é eleito, por que não integrar a executiva partidária? Por que não permitir que participe do comando do partido?", questiona o tesoureiro do PP.

Tiscoski diz que o núcleo dirigente do PP é "composto pelo grupo que foi eleito em 2005 e reeleito em 2007 sem grandes mudanças". Ele é secretário de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades e foi indicado para o cargo dentro da cota do PP no governo federal. Apesar de ser o principal tesoureiro do partido, ele teve a conta da campanha para deputado federal em 2006 rejeitada por trazer doações de uma empresa concessionária de serviço público. Entretanto ele contesta a decisão e recorre ao Supremo Tribunal Federal.

No PTB, tanto o secretário-geral do partido, Campos Machado, quanto o deputado federal Arnaldo Faria de Sá, que participou da CPI dos Correios, reforçam a importância da permanência desses dirigentes. "Enquanto são só suspeitos, não tem problema", disse Faria de Sá. Para Machado, os quadros partidários são competentes e não precisam se afastar da função.

O PT fez uma limpeza geral na Executiva depois do escândalo do mensalão foi o PT. Delúbio Soares foi afastado do cargo de tesoureiro e saiu do partido. Silvio Pereira desligou-se do PT e do cargo de secretário geral. José Dirceu, apesar de não ter deixado de influenciar internamente os quadros partidários, não participa da direção. Entretanto, dirigentes que comandavam o partido à época do escândalo da compra de um dossiê contra políticos tucanos continuam em cargos-chave tanto no diretório nacional quanto no diretório paulista - Ricardo Berzoini, presidente nacional do PT) e Paulo Frateschi, presidente do PT de São Paulo.

Nos depoimentos à CPI dos Correios, dirigentes e tesoureiros partidários expuseram versões de que o mensalão teve origem nas campanhas municipais. Durante a CPI dos Correios, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, prestou o mais detalhado depoimento sobre a atuação da legenda no pagamento de dívidas eleitorais dos aliados.

As lideranças partidárias, entretanto, tentam minimizar a permanência do caixa dois nas eleições de 2008. Todos são unânimes em afirmar que "não existe a hipótese de haver novo mensalão".

O tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, garante que haverá muitas mudanças em relação à eleição de 2004, quando teve origem parte dos escândalos. "Em 2004 houve uma forte política de cooperação com os partidos aliados. Cooperação e compartilhamento de despesas. Agora isso mudou", disse. "Não haverá mais os compromissos interpartidários." Mas Ferreira faz uma ressalva e afirma que onde houver aliança, o partido não deixará de dividir despesas com os aliados, mas "haverá co-responsabilidade financeira".

O tesoureiro do PP aposta que o caixa dois deverá diminuir na próxima campanha. "Todos esses episódios (mensalão e caixa dois) vão resultar em mais cuidado na busca por recursos. A legislação vai continuar a mesma, não haverá mudanças no curto prazo. Mas é preciso refletir sobre as melhores formas de conduzir esse processo", afirma Tiscoski. Segundo o tesoureiro, os recursos repassados pelo diretório nacional às campanhas estaduais e municipais são poucos e cada diretório fica responsável por sua campanha.

No PMDB, o ex-ministro Eunício Oliveira, que ocupava a tesouraria antes de sua esposa, diz que o partido é radicalmente contra a mistura de contas partidárias com as eleitorais. "O PMDB não financia, não empresta nem arrecada recursos para as campanhas. Cada candidato é responsável e ele deve montar um comitê eleitoral para isso. Senão, iríamos responder por cada caso de candidato que não conseguisse pagar sua campanha", afirmou. "O PMDB só dá legenda. Nada de recursos."

Sobre o financiamento das candidaturas, o secretário geral do PTB argumenta que o partido evitará o uso do caixa dois para não piorar a situação do presidente da legenda. "A recomendação dada é de não aceitar receber pelo caixa dois. A Executiva fará uma punição exemplar aos diretórios que usarem esse recurso. Faremos uma comissão para acompanhar de perto essas questões. Não podemos arriscar a situação de Roberto Jefferson", disse Campos Machado.

Integrante das apurações da CPI dos Correios, Arnaldo Faria de Sá sustenta que as direções nacionais dos partidos, com algumas exceções, não participam da arrecadação de recursos para as campanhas municipais. "Isso fica sob a responsabilidade de cada candidato", diz. "A eleição municipal não passa por isso."