Título: Espumantes embalam o crescimento da Salton
Autor: Lopes, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2007, Agronegócios, p. B13

Angelo Salton Neto está rindo à toa. Afinal, garante, a vinícola gaúcha que leva o sobrenome da família nunca esteve tão bem. A produção de uvas, vinhos finos e espumantes cresce continuadamente. As vendas estão em alta, com reflexos positivos em participação de mercado e faturamento. Importadores fazem encomendas. Investimentos recentes deram resultados e novos aportes estão sendo planejados. Propostas de profissionalização, abertura de capital, parcerias ou mesmo de compra da empresa acumulam-se na mesa do empresário.

Epicentro dos movimentos que descreve, Salton comemora o avanço da empresa que preside, quase centenária, com a ressalva padrão de que os princípios que a norteiam desde a fundação, em 1910, são os mesmos. Ele próprio, apesar das modernas ferramentas de gestão à disposição, mantém velhos hábitos. Os papéis são um deles. Em sua sala na despojada sede na zona norte da capital paulista, pilhas que seguem uma lógica pessoal separam-no do interlocutor. O "feeling" na tomada de decisões também foi preservado. Nos restaurantes, a antena normalmente fica direcionada às tendências de consumo que o cercam.

Foi assim, diz, que identificou o potencial do Prosecco, símbolo da fase atual da companhia. Salton percebeu a demanda feminina crescer nas mesas ao lado em 2000. E, em grande parte graças à bebida, hoje sua vinícola abocanha quase 50% do mercado brasileiro de espumantes. "O Prosecco desmistificou o consumo de vinhos brancos espumantes no país". Verdade ou não, o fato é que a bebida, nacional ou importada, virou mania em recepções - nas que pontuam a turnê do Cirque du Soleil pelo país, o Prosecco é Salton.

Para a Salton, o Prosecco deverá representar cerca de 30% do faturamento da linha de espumantes em 2007. Puxada pelo avanço desta linha, que já responde por 20% das vendas da empresa, a receita total deverá crescer 12,4% em 2007 na comparação com 2006, para R$ 190 milhões. "Em 2001, quando começamos a investir para valer no nicho dos produtos finos, nosso faturamento era a metade disso".

De lá para cá, os investimentos totais realizados pela companhia somam R$ 50 milhões. Só a nova vinícola de Tuiuty, ao lado de Bento Gonçalves, berço do grupo, absorveu R$ 35 milhões. A unidade, projetada para produzir até 30 milhões de litros por ano, começou a operar a pleno vapor em 2006 e passou a concentrar toda a produção de vinhos finos e espumantes da Salton. Como o crescimento da empresa superou as expectativas - o faturamento de 2006 foi projetado em 135 milhões e atingiu R$ 169 milhões -, a construção de outra vinícola, que estava mesmo nos planos, deverá ser antecipada.

A idéia ainda é erguer a nova planta em Bagé e elevar no chamado "vinho da fronteira". "Bagé está no mesmo paralelo das regiões produtoras de Chile, Argentina e Uruguai. Queremos vinificar ali 1,5 mil toneladas de uvas por safra". É em Bagé que a Salton mantém uma parceria com 27 fazendeiros que ampliou sua área de cultivo em 200 hectares. Na parceria, os fazendeiros entram com terra e mão-de-obra e a Salton fica responsável pela parte agronômica, incluindo importação de mudas e implantação dos parreirais. Além dessa frente, em Bento Gonçalves a vinícola tem 70 hectares próprios.

A produção de uvas é crescente nas duas fronteiras. Em 2008, com a ajuda das baixas temperaturas deste ano - os cachos que serão colhidos entre janeiro e março estão brotando -, a companhia espera colher, no total, 20 mil toneladas de uvas, 10% mais que na safra deste ano. Cerca de 7 mil toneladas serão de uvas brancas para espumantes finos, neste caso um crescimento da ordem de 40%.

A produção de vinhos e espumantes, com isso, seguirá crescendo. Para a linha Classic (cabernet sauvignon, merlot e tannat), por exemplo, o objetivo é triplicar as vendas. Ela está sendo posicionada para ser vendida por entre R$ 10 e R$ 15 a garrafa, intervalo que concentra 80% das vendas de importados - que representam, no total, 67% das vendas de vinhos finos no Brasil. Nos espumantes, os nacionais já dominam o varejo.

Ao mesmo tempo em que briga com os importados (fortalecidos pelo câmbio) por aqui, a Salton tenta deslanchar as exportações (apesar do câmbio). Ainda em outubro, parte para os EUA o primeiro contêiner com 14,4 mil garrafas de vinhos finos. O contrato com um distribuidor local foi fechado recentemente e a carga será destinada basicamente às 480 churrascarias de estilo brasileiro situadas naquele país. Há negociações em curso com clientes na Rússia, China, República Tcheca e Suécia. As exportações ainda representam apenas 2% do faturamento, e o objetivo, renovado a cada ano, é que essa participação chegue a 10%.

É nesse ritmo que Angelo Salton Neto toca a profissionalização de uma administração que não deixará de ser familiar tão cedo - "a quarta geração já está em campo" -, descarta abrir o capital, analisa parcerias e rechaça propostas de compra. Com muitos papéis sobre a mesa e de olho no consumidor.