Título: Banco Mundial busca agilidade e modernização para atrair clientes
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2007, Finanças, p. C7

O presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, prometeu na semana passada que irá trabalhar para tornar a instituição mais atraente para países em desenvolvimento como o Brasil, a China e a Índia, que não precisam mais tanto da sua ajuda como no passado. Mas ele ainda está longe de obter o aval dos sócios mais poderosos da organização para as reformas necessárias para alcançar esse objetivo.

Num discurso em que delineou sua estratégia para os próximos anos, Zoellick disse na última quarta-feira que o banco precisa voltar a ser relevante para os países emergentes. Além de sócios da instituição, eles são hoje seus principais clientes. Mas Zoellick reconheceu que isso só acontecerá se o banco reduzir a burocracia que trava suas operações atualmente e oferecer serviços e instrumentos financeiros mais diversificados.

Mudanças nessa direção vêm sendo discutidas no banco há alguns anos, mas enfrentam grande oposição dos países mais avançados, que controlam a organização. "A agenda de Zoellick vai na direção correta, mas é preciso ver se ele terá condições de implementá-la", disse ao Valor o ex-vice-presidente do banco para a América Latina David de Ferranti, hoje pesquisador da Instituição Brookings, um centro de estudos de Washington.

No fim de setembro, o banco aprovou um corte nas taxas de juros cobradas pela unidade do grupo que faz empréstimos para o setor público, o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird). Com a mudança, as taxas para países como o Brasil, que são classificados como de renda média, cairão 0,25 ponto porcentual, voltando ao nível em que se encontravam antes da crise asiática de 1997-98.

Esse movimento não muda muita coisa para quem tem interesse no dinheiro do banco, porque as taxas cobradas atualmente já são bem baixas. Como o próprio Zoellick reconheceu na semana passada, o problema maior está na burocracia do Bird. "Precisamos abordar os custos não-financeiros de fazer negócios [com o banco]", disse ele. "O nosso objetivo é agir mais rápido, melhor e mais barato."

Em média, obter a aprovação de um empréstimo no Banco Mundial leva dois anos, estima o representante do Brasil na direção na instituição, Rogério Studart. Se o projeto for apresentado ao braço da organização que analisa projetos do setor privado, a International Finance Corporation (IFC), a análise demora um ano. "É tempo demais para o ciclo político dos governos e para o ciclo de negócios no caso das empresas", diz Studart.

Com bilhões de dólares em reservas e acesso fácil ao mercado internacional de capitais, países emergentes como o Brasil, a China e a Índia deixaram de depender de instituições multilaterais como o Bird há algum tempo e resistem cada vez mais às condições que elas costumam impor em troca do seu dinheiro. As dificuldades encontradas para reformar o banco só têm servido para ampliar o distanciamento.

Uma das propostas que a direção do Banco Mundial vem debatendo prevê que os projetos financiados pela instituição usem regras locais para licitações e sejam monitorados por sistemas de controle e contabilidade dos países que contratarem os empréstimos, para evitar os custos adicionais e demora.

Em geral os países ricos não gostam dessa idéia. Eles acreditam que a adoção de controles menos rigorosos aumenta o risco de desvios de recursos. Além disso, eles temem que o uso de regras locais para licitações favoreça empresas nacionais e prejudique grupos estrangeiros interessados nos projetos que financia.

Os países avançados também resistem a outras propostas, como a que sugere a criação de um mecanismo financeiro que funcionaria como um seguro para nações vulneráveis a desastres naturais e oscilações bruscas nos preços de certas mercadorias. Os países ricos alegam que a prioridade do Banco Mundial deveria ser ajudar regiões pobres, e não países com acesso diversificado a outras fontes de capital.

Esses assuntos farão parte das discussões que ministros das finanças do mundo inteiro terão nesta semana, quando se encontrarão em Washington para as reuniões anuais do banco e do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas é improvável que ocorram avanços significativos.

Zoellick está mais preocupado com outra coisa no momento. Sua intenção ao reduzir as taxas de juros dos empréstimos do Bird foi fazer um gesto de boa vontade e ganhar o apoio dos países em desenvolvimento para reforçar os cofres da Associação Internacional de Desenvolvimento (AID), braço do Banco Mundial que financia projetos em países mais pobres. Sua prioridade nesta semana será tirar dos países ricos contribuições mais generosas para sua causa.