Título: Emissão de FIDCs cai com venda de ações
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2007, Finanças, p. C11

A emissão de fundos de investimento de direitos creditórios (FIDCs) lastreados em empréstimos pessoais declinou no primeiro semestre mas tende a retomar o ritmo de expansão. A expectativa é de especialistas da agência de rating Standard &Poor's (S&P).

Levantamento da S&P mostra que a emissão de FIDCs lastreados em empréstimos pessoais somou R$ 910 milhões no primeiro semestre, segundo informações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O montante é 14,7% superior ao do primeiro semestre de 2006, mas é 28% inferior ao do segundo semestre daquele ano.

O analista da S&P, Jean-Pierre Cote Gil, atribuiu a redução das emissões de FIDCs ao aumento da liquidez no mercado doméstico que abriu espaço para as operações de abertura de capital de um grande número de bancos de pequeno e médio porte. Neste ano, oito bancos pequenos e médios já emitiram ações, captando pouco mais de R$ 5 bilhões.

Mas, disse Gil, com a expansão do crédito, os bancos precisarão de mais funding, voltando a recorrer ao mercado de FIDCs. Esses fundos surgiram em 2001 como alternativa de captação de empresas, inclusive financeiras, a custos menores do que outros tipos de securitização. Desde 2002, foram captados cerca de R$ 7 bilhões com a emissão de FIDCs lastreados em empréstimos pessoais.

Segundo o Banco Central (BC), o estoque de crédito pessoal, deflacionado pelo IPCA, cresceu 23,3% de dezembro de 2006 a junho passado, chegando ao patamar de R$ 90 bilhões. Boa parte desse crescimento foi puxado pela expansão do crédito consignado, que já representa 62% dos empréstimos pessoais em comparação com 60% em dezembro e 30% em 2004.

O alongamento do prazo das operações também contribuiu para o aumento do estoque. O prazo médio ponderado dos empréstimos pessoais está em 14 meses e era pouco superior a 10 meses um ano antes.

A expansão está ocorrendo sem prejuízo à qualidade das carteiras. De acordo com dados do BC, os empréstimos com inadimplência superior a 90 dias representavam 8,1% do estoque total em junho, abaixo dos 8,9% de um ano antes.

Outro motivo para a retomada da emissão de FIDCs é a redução da liquidez causada pelo aperto internacional de crédito. Cerca de 70% das novas ações emitidas neste ano por empresas brasileiras foram adquiridas por investidores estrangeiros.

Relatório elaborado pela S&P, do qual Gil é um dos autores, acredita na expansão dos FIDCs com estruturas multi-classes, com a utilização de cotas mezanino, com riscos diferenciados e também remuneração diferente. Segundo o relatório, esses fundos com estruturas multi-classes tornam a alternativa de captação mais interessante porque reduz as taxas de desconto aplicadas na aquisição dos direitos creditórios e o percentual de cota subordinada que fixa retida com os originadores.

A Standard & Poor's também espera uma diversificação do mercado de securitização, com o surgimento de fundos lastreados em empréstimos pessoais sem consignação e operação inadimplentes.