Título: Todos juntos pelo turismo
Autor: ÁLVARES, DÉBORA; MARIZ, RENATA
Fonte: Correio Braziliense, 23/01/2011, Brasil, p. 12

Empresários de Teresópolis definem estratégias para voltar a atrair visitantes. BNDES abre linhas de concessão de créditos

Um levantamento da Secretaria de Turismo de Teresópolis, cidade com 180 mil pessoas que em janeiro costuma receber 200 mil, aponta que cinco dos 47 hotéis e pousadas do município estão com acesso ruim e, mais de uma semana após os deslizamentos, dois permanecem completamente isolados. Apesar da devastação, no entanto, 74% dos estabelecimentos encontram-se em perfeitas condições. Preocupados com as perdas financeiras, representantes dos setores de hospedagem, gastronomia, comércio e dos sindicatos de Teresópolis formaram um comitê. O intuito é fazer uma campanha de atração dos turistas, segundo Michel Al Odeh, secretário de Turismo. ¿Esse grupo, com o governo estadual, vai encomendar um planejamento estratégico de marketing para reaquecer o turismo. Queremos mostrar que as atrações turísticas não foram afetadas. Veicularemos a campanha em fevereiro, focando o carnaval¿, diz Michel.

Caldun Salha, dono do Bel-Air Hotel, também apostava as fichas no carnaval, mas começou a receber pedidos de cancelamento para o período. ¿Não sei o que vamos fazer, ainda não conversei com os funcionários, mas terei que dispensar 50% da equipe, pelo menos temporariamente¿, lamenta o empresário, que emprega cerca de 80 funcionários. O primeiro baque veio logo depois da tragédia, quando o time do Botafogo, que se hospedaria no hotel para treinar, suspendeu a reserva. ¿Só eles garantiriam 70% de ocupação¿, conta, ao mostrar a sala preparada especialmente para receber a comitiva botafoguense.

Além de corte de pessoal, o empresário vai adiar os planos de ampliação, com custo previsto de R$ 500 mil e 50% do valor já aprovado no banco. Prejuízo maior teve José Augusto Prates, que iria inaugurar o primeiro parque de aventuras de Teresópolis no sábado passado, ou seja, quatro dias após o temporal que destruiu parte da cidade. ¿Investi quase um milhão de reais nesse projeto. A área de 43 mil metros quadrados acabou¿, lamenta Prates. Mesmo diante da enorme perda financeira, ele arregaçou as mangas para ajudar como voluntário, levando, de jipe, mantimentos a comunidades atingidas. ¿Não é hora de pensar no prejuízo, a vida é o mais importante¿, afirma.

Crédito Para auxiliar os empresários que, após a tragédia, correm o risco de perder seus empreendimentos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou, na sexta-feira, a criação de dois programas de concessão de crédito. A ideia é destinar R$ 400 milhões, por meio do BNDES Emergencial de Reconstrução do Rio de Janeiro (BNDES PER Rio), ou refinanciar prestações que não foram pagas desde que as cidades atingidas decretaram estado de calamidade.

Para o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Istvan Kosznar, apesar das facilidades representarem um início das políticas a serem implementadas em casos de desastres, as medidas são insuficientes. ¿Deveria haver uma política diferenciada de crédito, de compreensão de taxas de juros, com uma negociação caso a caso. Um produtor rural pode não conseguir se recapitalizar no tempo determinado¿, ressalta o especialista em políticas públicas.

A solução envolve, na avaliação do especialista, uma reorganização empresarial com a criação de distritos industriais. ¿Para mim, adiar o pagamento de impostos, por exemplo, é um completo desrespeito, uma demonstração de que não se quer resolver o problema, uma hipocrisia¿.

Redução de danos

Inaugurado em 31 de dezembro pela prefeitura do Rio de Janeiro, o Centro de Operações Rio reúne 30 órgãos municipais e concessionárias no monitoramento do funcionamento da cidade e na prevenção de perigos iminentes, como tempestades e inundações. O sistema, que conta com um radar metereológico instalado num ponto alto da capital, pretende ajudar a antecipar soluções e emitir alertas aos setores responsáveis sobre riscos e medidas emergenciais para minimizar os danos em casos como acidentes, chuvas fortes e deslizamentos. A abrangência, contudo, restringe-se à capital. Algo semelhante para outras áreas, como as regiões serranas, ainda é só ideia.

Defesa Civil confirma 791 mortos

A tragédia na região serrana do Rio de Janeiro provocou 791 mortes, confirmadas até o fim da tarde de ontem pela Defesa Civil, nas cidades de Nova Friburgo, Bom Jardim, Teresópolis, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto e Sumidouro. Esse número deve continuar aumentando nos próximos dias. Com base em informações prestadas por familiares e amigos, o Ministério Público do estado já listou 430 moradores dessas cidades que continuam desaparecidos desde os deslizamentos provocados pelas fortes chuvas. Algumas regiões ainda permanecem isoladas.

Moradores e autoridades de saúde temem surtos de doenças características em situações como essa. É o caso da leptospirose. Em visita a Nova Friburgo, ontem, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, negou o registro da doença na cidade e em Teresópolis, os dois municípios mais atingidos pelas enchentes. A possibilidade de ocorrência da leptospirose na região continua a ser monitorada pelo Ministério da Saúde, segundo Padilha.

O isolamento da cidade de Bom Jardim deve diminuir assim que o Exército terminar de montar a ponte metálica sobre o Rio Grande, que liga Bom Jardim a Nova Friburgo. O trabalho de montagem da estrutura começou ontem. A expectativa é de que a ponte seja instalada em três dias. Isso possibilitará o envio de donativos aos moradores de Bom Jardim prejudicados pela tragédia na região serrana do Rio. Um canal improvisado vem sendo utilizado por pedestres. Medicamentos básicos, comida e água são levados por essa estrutura.

Milhões para as rodovias

Os R$ 80 milhões inicialmente previstos pelo governo para recuperar e reconstruir as rodovias atingidas pela chuvas não serão suficientes. Um levantamento do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes (Dnit) aponta a necessidade de mais R$ 70 milhões para obras nas estradas de Goiás, do Distrito Federal, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Além dos recursos extras, o Dnit anunciou ainda a duplicação da BR-381, no trecho entre Belo Horizonte e Governador Valadares. A rodovia, palco de muitas mortes, entrará em processo de licitação até a primeira quinzena de maio, mesma data prevista para a concorrência do projeto de restruturação do Anel Rodoviário do trecho, com previsão de mais 7,5 quilômetros de vias marginais.

Cerca de R$ 5 bilhões devem ser investidos nas estradas brasileiras neste ano. De acordo com o Dnit, entre 2007 e 2010, foram investidos em média R$ 3 bilhões nas rodovias. Segundo o departamento, a manutenção das estradas é suficiente para a demanda atual.

O geotecnista da Universidade de Brasília (UnB), José Camapum, contesta a afirmação. Segundo ele, o governo brasileiro gasta em excesso com a manutenção das rodovias. O especialista em pavimentação critica a falta de fiscalização das condições das estradas e defende um cuidado preventivo. ¿O governo só age em situação de socorro. Como não há um cuidado sistemático, o desgaste do asfalto é maior, o que diminui, inclusive, a durabilidade¿. (DA)

Memória

Auxílios para toutros estados

Em julho do ano passado, o governo federal anunciou um programa emergencial para recuperar as economias dos municípios de Alagoas e Pernambuco devastados pelas chuvas. A linha de crédito de R$ 600 milhões ajudou a financiar a compra de máquinas e equipamentos, obras de construção civil, além do capital de giro. As empresas também puderam refinanciar as dívidas vencidas.

Outra ocasião, em setembro de 2009, socorreu empresários de Santa Catarina, que receberam uma concessão de R$ 75 milhões em créditos para auxiliar as vítimas de vendavais. O modelo foi o mesmo usado para atender empreendedores que sofreram com as enchentes no Vale do Itajaí, em 2008. Cada produtor pode acessar até R$ 100 mil para recuperar sua propriedade, com juros de 2% ao ano, 10 anos para pagar e três de carência.