Título: Produtos vendidos pela Cisco no Brasil vêm do exterior
Autor: Rosa, João; Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2007, Brasil, p. A2

A Cisco Systems, que seria a empresa americana beneficiada pelo esquema de fraude revelado pela operação Persona, tem operações diretas no Brasil desde 1994. O papel da subsidiária, cujos escritórios estão estabelecidos em São Paulo, no Rio e em Brasília, é comercial. Todos os produtos da companhia vendidos no país são importados.

Ontem, nos Estados Unidos, a Cisco divulgou que seus escritórios haviam sido vasculhados pela polícia no Brasil. "Estamos cooperando com as autoridades", disse Marc Musgrove, porta-voz da Cisco, em entrevista por telefone, informou a Bloomberg. No Brasil, a subsidiária declarou, por meio de um comunicado, que "busca saber exatamente o que aconteceu e está cooperando com as investigações."

Os papéis da Cisco fecharam, ontem, a US$ 32,29, o que significa uma queda de 1,52%. No mês, as ações acumulam uma perda de 2,54%, mas no ano registram valorização de 18,15%. A companhia negocia ações na Nasdaq, a bolsa eletrônica americana.

A Mude, distribuidora dos produtos da Cisco em São Paulo, seria outro alvo da operação Persona. Procurada pelo Valor, a empresa disse que seus executivos não falariam sobre o assunto.

Criada em 1984, a Cisco chegou a ser a companhia mais valiosa do mundo no início do ano 2000, no auge da bolha pontocom, ultrapassando marcas mais antigas, como GE e Coca-Cola. Nos meses seguintes, porém, com o estouro da bolha, muitas companhias de internet - que respondiam pelo grosso dos negócios da Cisco - foram varridas do mapa, deixando a fabricante em uma situação difícil. No ano fiscal 2001, o primeiro depois da crise pontocom, a empresa registrou prejuízo de US$ 1 bilhão, em contraste com o lucro líquido de US$ 2,7 bilhões do ano anterior.

Sob o comando de seu executivo-chefe, John Chambers, a Cisco reagiu: cortou os gastos com produção pela metade, reduziu drasticamente as despesas com marketing e desacelerou sua política de aquisições - uma das mais intensivas do setor de tecnologia da informação.

À produção de roteadores e switches - equipamentos que encaminham o tráfego das informações na rede -, a Cisco acrescentou novas áreas de interesse, como telefonia via internet, dispositivos de segurança e sistemas sofisticados de videoconferência.

Como resultado das mudanças, a companhia encontrou seu caminho de volta ao lucro: nos últimos cinco anos, o faturamento da Cisco saltou de US$ 18,9 bilhões para US$ 34,9 bilhões. O lucro líquido mais que dobrou, aumentando de US$ 3,6 bilhões para US$ 7,3 bilhões.

No Brasil, a empresa realizou uma troca de comando em novembro do ano passado. A direção dos negócios foi assumida por Pedro Ripper, que passou por outros cargos na companhia, desde sua entrada em 2003.

Então com 33 anos de idade, Ripper ocupou o cargo antes exercido por Rafael Steinhauser, que entrou na Cisco em 2002 para dirigir a área de telecomunicações e chegou à presidência da empresa. Steinhauser deixou a companhia em outubro do ano passado.

A Cisco tem sede em San Jose, no estado da Califórnia, mas seu nome é uma homenagem à vizinha San Francisco, onde viviam seus fundadores.