Título: Demanda aquecida reduz férias
Autor: Watanabe , Marta ; Maia , Samantha
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2007, Brasil, p. A3
Eleno Bezerra: muitas empresas de autopeças suspenderam as férias O aumento da demanda por automóveis, computadores, televisores, móveis, celulares e também a proximidade do Carnaval (no começo de fevereiro) vão deixar muitos metalúrgicos com menos dias de férias coletivas neste fim de ano. Além da necessidade de manter as lojas abastecidas no Natal, a necessidade de repor estoques já em janeiro é a razão de muitas empresas terem decidido reduzir o volume de férias em 2007 em relação ao padrão dos últimos anos.
Em alguns segmentos do setor metalúrgico, como o de autopeças e celulares, o descanso de fim de ano foi até suspenso. Esse é o quadro na capital de São Paulo, na região do ABC, na região de Campinas, em Manaus e Pernambuco. Em Manaus, o aumento de produção provocou a contratação de 5 mil trabalhadores desde meados de setembro, segundo informações do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam).
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus, neste ano as férias coletivas devem iniciar-se no último decêndio de dezembro e serão de 15 a 20 dias. "No ano passado, a produção menor e a greve da Receita Federal levaram muitas empresas a conceder férias por mais de 30 dias", diz o presidente do sindicato, Valdenir de Souza Santana. O aumento de produção, diz ele, provocou principalmente a contratação de mão-de-obra temporária até meados de dezembro. Segundo o sindicato, cerca de 60% das indústrias fizeram esse tipo de contratação.
Maurício Loureiro, presidente do Cieam, diz que este ano as férias coletivas terão um período menor. Segundo ele, as empresas do distrito industrial da Zona Franca usarão o descanso para manutenção preventiva e ajustes de linhas de produção ou mesmo implantação de novas linhas em função de produtos que serão lançados no início de 2008. "Esse pit stop é obrigatório para as empresas do segmento." Pela sua estimativa, este ano cerca de 70% das empresas deverão conceder férias coletivas em sua maioria de 20 dias.
O descanso, diz Loureiro, deve começar em torno do dia 17 de dezembro até o início de janeiro . "As empresas deverão voltar a trabalhar em janeiro a todo vapor, porque o Carnaval de 2008 é relativamente cedo, no começo de fevereiro", diz. Na fábrica da Nokia, as férias não foram suspensas, mas encurtadas. De início, o plano era liberar os funcionários 20 dias a partir do dia 17 de dezembro. A assessoria de imprensa da empresa explica que em razão do aumento de volume de produção, isso foi alterado. Agora, as férias devem começar apenas no dia 24 de dezembro por um período de dez dias.
Loureiro confirma a alta contratação de trabalhadores temporários a partir de setembro. Para ele, grande parte dos 5 mil trabalhadores temporários foram absorvidos por fabricantes de PCs e outros produtos de informática. Segundo ele, a expectativa é que a demanda continue alta o suficiente para as indústrias contratarem de forma definitiva entre 30% e 35% dos temporários. A Honda de Manaus nem chegou a contratar temporários. Desde setembro já conta com 1,2 mil novos trabalhadores efetivos. A empresa deve conceder dez dias de férias coletivas.
Segundo Loureiro, é o aquecimento de mercado que explica a mudança nas férias coletivas e a expectativa de contratação. O faturamento do pólo industrial de Manaus de janeiro a setembro de 2007 cresceu 8,78% em relação ao mesmo período do ano passado.
No Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, os metalúrgicos terão férias também em período menor, principalmente para os 30 mil trabalhadores de montadoras e setor de autopeças. Segundo o sindicato, as férias, que foram de mais de 15 dias no ano passado, encurtarão este ano para um período próximo do mínimo de dez dias, envolvendo basicamente as semanas do Natal e Ano Novo. "Este ano cerca de 40% dos profissionais do segmento de autopeças devem sair em férias coletivas", diz José Paulo da Silva Nogueira, diretor-executivo do sindicato. No ano passado, informa, foram 60%.
Na região do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, os trabalhadores também deverão parar menos. Neste ano, de acordo com a entidade sindical, 70% das indústrias deverão conceder férias coletivas estritamente entre Natal e ano novo. No ano passado, diz, 40% das empresas concederam férias coletivas em períodos maiores, de 15 dias. "No setor de autopeças, muitas programavam as férias, mas as suspenderam porque as montadoras também não irão parar", diz Eleno Bezerra, presidente do sindicato em São Paulo.
As férias coletivas dos trabalhadores de máquinas e eletroeletrônicos de Campinas, interior de São Paulo, ainda não foram confirmadas, mas o sindicato estima que elas deverão ser mais curtas que as do ano passado, que foram de 10 a 15 dias. A Motorola, que no ano passado parou durante uma semana, esse ano vai manter a produção ininterrupta. A empresa também contratou 300 trabalhadores a mais nesse fim de ano. "Devemos ter uma baixa na produção em janeiro, mas nada que justifique dar férias coletiva esse ano", diz Eduardo Pellegrina, diretor de Recursos Humanos da empresa.
Os sindicatos patronais creditam um descanso mais curto a um mercado mais aquecido. Segundo a Abinee, o nível de emprego cresceu 6,4% no 1º semestre de 2007, na comparação com dezembro de 2006. As áreas que mais contrataram foram automação industrial, equipamentos e informática.
Em Pernambuco, também houve empresas do setor automobilístico que suspenderam o descanso de fim de ano, segundo o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Pernambuco (Simmepe). De acordo com Girley Brasileiro, secretário-executivo do sindicato, das 12 indústrias mais representativas de Pernambuco, cerca de metade costumava dar férias coletivas. Neste ano, entretanto, duas já cancelaram a folga por causa do grande volume de pedidos. É o caso da Baterias Moura e da Cronorte, que faz caçambas. "É um indicador de que a produção está em alta", afirma Brasileiro. Na Moura, as férias vão vigorar apenas para os trabalhadores da área administrativa.
Se mais funcionários vão ter de trabalhar neste fim de ano, os sindicalizados contam pelo menos com um alento: a categoria conseguiu aumento real em várias regiões. Em São Paulo e na região do ABC, o dissídio deu elevação de 2,55% acima da inflação. Em Campinas, interior paulista, o reajuste real foi de 2,5% e, em Manaus e Recife, de 2%.
A Renault do Brasil, que tem fábrica em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, vai repetir o esquema usado no ano passado. A equipe que trabalha na fabricação dos automóveis terá férias coletivas de 20 dias, entre 17 de dezembro e 7 de janeiro. O setor administrativo ficará menos tempo parado, dez dias, de 24 de dezembro a 4 de janeiro.
A Volvo, também no Paraná, já comunicou ao sindicato dos metalúrgicos que concederá férias coletivas e as equipes também foram divididas. Empregados da produção de caminhões pesados e ônibus irão parar mais tempo, de 17 de dezembro a 9 de janeiro, enquanto os que trabalham na fabricação de caminhões semi-pesados e na administração terão férias de 26 de dezembro a 6 de janeiro.
A CNH, fabricante de tratores e colheitadeiras, não pensa em parar a produção. A empresa informou que não dará férias coletivas, ao contrário do que aconteceu no ano passado, quando a fábrica de Curitiba fechou 20 dias em janeiro e mais 20 dias em julho. Com a recuperação da agricultura, ela planeja fazer 130 contratações em dezembro, para totalizar 780 em 2007.