Título: Companhias do Brasil "descobrem" a Suíça
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2007, Empresas, p. B7

A Companhia Vale do Rio Doce, Aracruz, Votorantim Celulose e Papel (VCP), Suzano, Coimex e Vicunha Têxtil têm algo em comum: ampliam as operações internacionais a partir de subsidiárias na Suíça, paraíso fiscal por excelência para companhias.

A sede européia da Vale, instalada num vilarejo próximo de Genebra e de vinhedos, planeja triplicar seu quadro de funcionários, de 40 para 150, em futuro próximo, no rastro da aquisição da canadense Inco, que reforçou sua liderança no mercado global de minérios e metais, informam fontes do setor.

Mais empresas brasileiras demonstram interesse em fechar acordos de investimentos com o governo suíço para montar a sede internacional ou centro de distribuição, segundo um advogado que acompanha esse tipo de operações.

A Suíça permite que empresas ditas de domicílio (dominadas do estrangeiro sem atividade comercial no país) paguem pouco ou quase nada de impostos estadual ou local sobre os lucros obtidos fora do território helvético. As empresas são taxadas basicamente sobre sua fraca atividade direta no mercado suíço.

Por razões fiscais, todas as exportações da Votorantim Celulose e Papel (VCP) - desde venda para os vizinhos na América do Sul como para o outro lado do mundo - passam em termos contábeis pelo escritório de Zug, o maior dos paraísos fiscais na Suíça.

A empresa faturou US$ 1,3 bilhão no ano passado, dos quais 46% vem do mercado externo. Significa que quase metade do faturamento circulou por sua subsidiária em Zug.

Também no setor de papel e celulose, Aracruz e Suzano são quase vizinhas na cidade de Nyon, a dez minutos de Genebra.

A Coimex preferiu Genebra, um dos centros mundiais no financiamento de matérias-primas. A empresa capixaba diz ter instalado aqui a primeira trading brasileira no exterior para operacionalizar a comercialização de açúcar no mercado internacional como destinação final. Além de centralizar a venda internacional de etanol, a Coimex Suisse faz operações estruturadas de "trade finance".

A Vicunha Europa transferiu sua sede da Bélgica para Gland, a trinta minutos de Genebra. É a única das empresas que fala abertamente de sua instalação e de seus planos a partir da Suíça. Seu diretor, Thomas Dislich, diz que está "longe de trabalhar num paraíso fiscal", porque a estrutura comercial é diferente. O principal atrativo da Suíça, para Thomas, é a localização central, a facilidade para ir em direção dos clientes em poucas horas.

A VCP antes estava na Bélgica. A Vale do Rio Doce também abandonou Bruxelas e informa que decidiu reunir na Suíça estruturas antes espalhadas por vários países, porque o país oferece melhores condições de infra-estrutura e localização. A empresa recusa, porém, comentar as informações da expansão em Saint Prex, nas proximidades de Genebra, perto de vinhedos.

"O acordo de investimentos feito entre a Vale e o governo Suíço para a instalação da CVRD International está seguindo o cronograma normal", diz um porta-voz da empresa. "'Por respeito a confidencialidade com o governo, não podemos revelar os termos do acordo", que inclui a expansão das operações.

As vésperas de uma grande reunião econômica entre os governos do Brasil e da Suíça, semana que vem em Berna, os comentários entre negociadores eram agora sobre fluxo de empresas brasileiras para o território suíço, e menos em direção do Brasil.

A questão é por quanto tempo as vantagens oferecidas pela Suíça a companhias estrangeiras serão mantidas, diante da batalha aberta pela União Européia, que denuncia vantagem competitiva desleal dada pelos cantões (estados) helvéticos.

Fontes suíças retrucam que a taxa de imposição no país é menos atrativa para as empresas estrangeiras do que na Irlanda, Luxemburgo e nos países do Leste, todos membros da própria UE. "Nosso sistema fiscal é a expressão do federalismo e resulta de uma escolha democrática", diz o ministro suíço de finanças, Hans-Rudolf Merz.