Título: Setor de cartões rechaça intervenção do governo e lidera expansão global
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2007, Finanças, p. C2

Os bancos e administradoras de cartões de crédito rechaçaram ontem uma maior intervenção do governo no setor. O argumento é de que ações como tabelamento de taxas e exigência do compartilhamento de terminais leitores de cartões poderiam comprometer o futuro do segmento, segundo um estudo encomendando pela Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs) à consultoria McKinsey.

O Brasil é imbatível no crescimento dos meios de pagamento eletrônicos. A pesquisa da McKinsey avaliou o mercado de cartões no Brasil no período de 2000 a 2005 e comparou com outros países emergentes (como México e Argentina) e desenvolvidos (como Estados Unidos e França). O mercado brasileiro foi o que mais cresceu: 14% ao ano no número de cartões e 24% em transações, superando, por exemplo, México (9% e 4%), Reino Unido (7% e 10%) e Estados Unidos (4% e 12%).

O forte crescimento, segundo a pesquisa, se deu graças a dois pontos: o modelo de negócios adotado pelo setor e a queda dos preços dos serviços de telefonia, essenciais para a realização das transações pelo país afora. O cartão ganhou espaço principalmente dos cheques.

Mantida a atual estrutura, o estudo aponta que o Brasil tem condições de nos próximos cinco anos chegar ao nível dos países desenvolvidos, destaca Edson Santos, diretor da Abecs e diretor financeiro da Redecard (que credencia estabelecimentos para a MasterCard).

Apesar do crescimento, a participação do cartão no consumo privado brasileiro ainda é baixa: está em 16%, frente a 36% da Holanda, 41% do Reino Unido e 37% dos EUA. No Brasil, o principal entrave para a expansão maior dos cartões é a elevada economia informal.

O modelo adotado pelo setor no Brasil, apesar de concentrado, é eficiente e tem nível de inovação elevado. Ao contrário do que era de se esperar, o estudo afirma que a receita com transações de cartões aqui está entre as menores do mundo. O ganho por transação é de US$ 0,80, abaixo da média mundial (US$ 1,00) e de países como México (US$ 2,20) e Estados Unidos (US$ 1,50).

As receitas anuais no Brasil por terminal - incluindo os compartilhados (o PDV, usado em grandes redes de varejo, que representa 38% das operações) - chega a US$ 3 mil, também abaixo da média mundial (US$ 4 mil). Nos EUA chegam a US$ 10,3 mil e no Canadá a US$ 5,1 mil. O Brasil porém tem tíquete médio (US$ 31) e transações por terminal (1,9 mil) abaixo da média mundial (US$ 72 e 5 mil).

Já o compartilhamento das leitoras de cartões, reivindicado há tempos pelo Banco Central, é visto com reservas. Antônio Rios, diretor da Abecs e presidente da VisaNet (que credencia os bares e lojas para a Visa), afirma que em alguns setores o compartilhamento vai acontecer de forma natural. Nos táxis, por exemplo, ele acha difícil a existência de várias leitoras.

Santos, da Redecard, completa que em setores onde o compartilhamento é mais complicado a exigência dele pelo governo pode demandar pesados investimentos, que inviabilizaria o crescimento. Novas tecnologias para pagamentos, como o celular, já devem nascer compartilhadas. "Ninguém terá um celular para cada bandeira", diz Luiz Eduardo Ritzmann, diretor de tecnologia da VisaNet.

O estudo cita ainda a Austrália, onde houve uma pesada intervenção do governo, fixando tarifas. Isso levou a um aumento das anuidades e reduziu o crescimento do número de terminais, que era de 25% ao ano para 5%. "Com o objetivo de estimular a concorrência, o excesso de indução ao compartilhamento pode inibir investimentos e minar a própria concorrência", destaca Gesner de Oliveira, ex-presidente do Cade.