Título: Empresas pagam mais no mercado de eurobônus
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2007, Finanças, p. C8

A Odebrecht foi a primeira empresa brasileira a lançar nova operação de eurobônus após a crise de inadimplência nas hipotecas nos Estados Unidos ter contaminado os mercados de crédito internacionais, movimento que se iniciou em julho. Obteve demanda de US$ 1,2 bilhão por US$ 200 milhões em papéis oferecidos e acabou criando nova referência de preços no mercado, diz Alvaro Novis, vice-presidente financeiro da Odebrecht.

A empresa captou agora pagando 7,75% de rendimento por um papel de prazo de vencimento em dez anos. A Construtora Norberto Odebrecht (CNO), garantidora dos papéis, tem classificação de risco de crédito "BB" com perspectiva estável pela Standard & Poor's. Para comparação, a Sadia, com o mesmo rating "BB" estável pela S&P, captou US$ 250 milhões em maio, com as condições de mercado mais favoráveis, e pagou 6,875% ao ano por um título de dez anos.

É verdade que os papéis emitidos pela Odebrecht Finance Ltd. - sediada nas Ilhas Cayman e controlada pela Odebrecht S.A. - têm opção de resgate antecipado pela empresa ("call") a partir de seu quinto ano de vida e que os investidores internacionais cobram um prêmio por isso. Mas, em meio à forte liquidez vivida em maio, o prêmio pela "call" não seria tão grande assim.

A gigante Gerdau, que tem rating "BBB-" com perspectiva negativa da S&P, o primeiro da escala do "grau de investimento", espécie de selo de investimento-não especulativo das agências de rating, acaba de lançar US$ 1 bilhão no mercado como parte do pacote para compra da Chaparral. Usou os 7,75% da Odebrecht como referência: está propondo ao investidor rendimento em torno de 7% para seus papéis de vencimento em dez anos, acima do pago pela Sadia, de rating mais baixo, em meio à forte liquidez internacional de maio.

Os recursos obtidos pela Odebrecht serão usados para investimentos sob a forma de capital em projetos dos setores de óleo e gás, infra-estrutura, com destaque para saneamento básico, e imobiliário. Na área de óleo e gás, a empresa está construindo plataforma de perfuração de petróleo que será alugada para a Petrobras e vai investir mais US$ 50 milhões de capital próprio no projeto, além dos US$ 50 milhões já investidos.

Do total, 70% dos compradores do papel da Odebrecht foram investidores institucionais americanos, diz Guilardo Figueiredo, diretor de relação com os investidores da CNO. "Apesar da crise nos EUA, o mercado está sedento por bons ativos", afirma Mario Augusto da Silve, gerente-financeiro da CNO.