Título: Ações com renda fixa
Autor: Cotias, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2007, Investimentos, p. D1

A correção pela qual passou o Ibovespa ontem é um indício de que a travessia até 2008 poderá ser entremeada de percalços e é por essas e outras que os analistas sugerem manter posições defensivas, com ações com potencial de proporcionar bons retornos em dividendos e juros sobre capital próprio. Essa a lógica por trás da seleção da Carteira Valor de Dividendos do quarto trimestre. A percepção dos analistas é de que empresas com políticas claras de distribuição de lucros tendem a ser mais resistentes quando o mercado muda de direção, pois o investidor tem o estímulo da remuneração extra para não sair vendendo os papéis a torto e a direito.

Após o principal termômetro da bolsa fazer uma rápida escalada até os 62 mil pontos, o espaço para ganhar com novas valorizações ficou apertado. Há, entretanto, ações que, independentemente de estarem com preços próximos daquilo que é considerado justo, ainda esboçam ganhos atraentes naquela parcela de renda fixa que cabe ao investidor. Na seleção da Planner Corretora - que faz a sua estréia na Carteira Valor de Dividendos nesta edição - o chamado "dividend yield", o dividendo projetado para 2007 sobre o valor de mercado, oscila num intervalo de 6,3%, caso da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), a 13,1%, exemplo da Equatorial Energia, que ingressou no pregão em 2006.

Apesar de haver ainda quem questione a reestruturação da holding que assumiu os ativos da Cia. Energética do Maranhão (Cemar), a Equatorial estreou seguindo a dinâmica do setor, como uma boa pagadora de dividendos, diz o chefe de análise da Planner, Ricardo Tadeu Martins. Em 2006, cita, a empresa distribuiu 90,5% dos resultados, já sob o comando da GP Investimentos. "Além de ter um 'yield' interessante, a GP tem o histórico de impor uma gestão voltada para a eficiência em companhias deficitárias, tornando-as rentáveis."

Para o especialista, a disposição das empresas em remunerar bem, tanto o pequeno acionista quanto o controlador, é uma sinalização de que vale a pena o investidor manter um relacionamento de longo prazo. Na sua lista também estão nomes tradicionais do mercado, como Telesp PN (com "yield" projetado de 11,1%), Souza Cruz (7%), e, Itaúsa PN (6,6%).

As concessionárias de serviços públicos têm tido presença recorrente nos portfólios de dividendos. Entre os cinco papéis mais indicados pelas corretoras nesta edição, quatro têm esse perfil: CPFL Energia ON, Telesp PN, AES Tietê PN e Cemig PN. A lista coincide com as eleitas da Link Investimentos, que ainda inclui Tractebel ON. As "utilities" brasileiras tornaram-se especialistas em afagar o bolso do acionista porque estão em setores que geram muito caixa e que, no dispêndio para investimentos, têm a opção de alavancar seus negócios com dívida, explica o chefe de análise Celso Boin Junior. "Os projetos já nascem com dinheiro novo, a partir dos chamados 'project finance' (financiamento de projetos)."

Neste rol, se encaixam concessionárias de água e esgoto, operadoras logísticas e as concessões de rodovias, que podem ser generosas na distribuição de resultados tão logo maturem os investimentos. CCR ON estava entre as recomendações da Link no trimestre passado, mas o ruído gerado após a nova rodada de licitação de rodovias federais - em que a CCR não levou nada - fez com que Boin Jr. tirasse esse risco da carteira. "A CCR tem sido bem-sucedida em alongar contratos com as taxas de retorno antigas, mas com o resultado do leilão atual (com taxas mais baixas) pode haver pressão política para rever esses valores." Na média, o "yield" projetado na seleção da Link está em 8,1%.

Com as valorizações sistemáticas do Ibovespa, não tem sido fácil garimpar ações que ainda apresentem bons retornos em dividendos, admite o chefe de análise da Concórdia Corretora, Eduardo Kondo, que pontuou suas escolhas com papéis com retornos projetados entre 6% e 8% para 2008. Entre as novidades do trimestre, ele acrescentou Acesita PN. Embora a siderúrgica tenha distribuído apenas 32% dos seus resultados no ano passado, a expectativa de que fechará 2007 com lucro recorde pode engordar a cota do investidor. O especialista projeta um "yield" em 8,3% para 2008.

Num momento em que tudo já esticou demais, o portfólio de dividendos é mais do que bem-vindo como estratégia de diversificação, assinala a chefe de análise da Ativa Corretora, Mônica Araújo. Na sua seleção, ela trocou Telesp ON por Telesp PN, que tem maior potencial de valorização. Ao portfólio já recheado de elétricas, ainda incluiu Cosern PNA e as units da Terna Participações, com um "yield" projetado de 10%.