Título: Política industrial vai mesclar inovação e aumento da capacidade
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2007, Brasil, p. A2

A fase 2 da política industrial, que está sendo elaborada em conjunto por várias áreas do governo, terá como foco o fortalecimento do ciclo de investimento. Os setores que já estão investindo serão alvo de uma política de inovação tecnológica, e para aqueles que não têm uma taxa de investimento adequada, a política será direcionada para reforçar os ciclos de investimentos e viabilizá-los, neutralizando fatores macroeconômicos que são desfavoráveis aos respectivos setores.

Para atingir esse objetivo, serão mobilizadas duas grandes alavancas: o BNDES e um tratamento tributário pró-investimento, como combinado com o Ministério da Fazenda. "Essas duas pernas é que moverão o investimento industrial nas áreas em que seu volume não esteja aparecendo como satisfatório para a sustentação do crescimento", disse ontem Luciano Coutinho, presidente do BNDES, em palestra no seminário do Centro Celso Furtado, no Rio de Janeiro.

Segundo ele, a sustentação do crescimento com equilíbrio macroeconômico e estabilidade de preços requer criação de oferta antecedente de forma acelerada, para evitar um nível de utilização da capacidade instalada da indústria muito alto, capaz de pressionar os preços. "O que eu tenho dito é que a política industrial e o BNDES, no longo prazo, precisam ajudar o Banco Central, criando oferta."

No entender de Coutinho, isso significa que a política industrial deve ser entendida e executada como parte integrante da política macroeconômica, atuando como suporte à manutenção da estabilidade. Para ele, a política industrial não pode ser política do BNDES ou do Ministério do Desenvolvimento, tem que ser uma política de governo, construída com articulação do banco com a Casa Civil, Ministério da Fazenda, da Ciência e Tecnologia e outros ministérios setoriais, como o da Saúde.

Na visão de Coutinho, é muito diferente ter uma política industrial num contexto de uma economia que cresce, onde se pode promover investimento e inovação, e em um contexto de ascensão da formação de capital (investimento fixo), do que em uma economia sem perspectiva. "Agora, estamos renovando estruturas produtivas, reequipando fábricas. Estamos nos preparando para uma nova onda de novas fábricas. É muito mais fácil a velha história que todos nós, economistas, sabemos, que a formação de capital fixo é o principal portador da inovação."

O investimento está hoje em ascensão no país, como mostra pesquisa do BNDES feita com base no desempenho de setores puxadores do investimento entre 2002 e 2005 e seus projetos para o período 2007 a 2010.

De acordo com levantamento no portfólio do banco, estão previstos investimentos totais, entre 2007 e 2010, das áreas de indústria, infra-estrutura e construção da ordem de R$ 1,04 trilhão nos quatro anos. Desse total, a maior participação, de 44% no valor total, é da construção civil, com R$ 470 bilhões de projetos de investimentos em carteira, sinalizando um início de um ciclo de investimentos no setor imobiliário com impacto importante sobre o emprego. Com base nesses dados, o BNDES projetou uma trajetória ascendente para a taxa de investimento em relação ao PIB, que deverá chegar a 17,6% em 2007 e alcançar 21,2% em 2010.

Para Coutinho, a inovação será importante para as empresas nesse processo. Ele ressaltou que o setor privado brasileiro está muito robusto, com uma rentabilidade média de 12% sobre o capital (500 maiores empresas do país) nos últimos três anos e uma massa de lucro de R$ 105 bilhões em 2006, que deverá ser maior em 2007. Tudo isso fortalece o cenário de um crescimento sustentado no país, que soube resistir muito bem à recente turbulência no mercado americano. É o momento certo para o banco "pisar mais fundo no processo de promoção das inovações".

A meta de Coutinho, no BNDES, é fazer a instituição funcionar como um propulsor de empresas inovadoras, desde incubadoras até grandes empresas. Para isso, o banco usará de vários instrumentos, seja a capitalização das empresas nascentes, a criação de fundos de "venture capital" para fortalecê-las até o apoio às grandes empresas. "Temos oportunidade de construir um ciclo de crescimento sustentável do ponto de vista macroeconômico desde que o investimento continue firme e cresça à frente da demanda corrente para manter o equilíbrio macroeconômico e ser o grande canal de transmissão de inovações", disse Coutinho.