Título: Câmbio pode tirar Brasil da rota do crescimento, diz novo diretor do IE
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2007, Brasil, p. A3

O economista Mariano Laplane está satisfeito com o tom mais desenvolvimentista assumido pela política econômica no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Novo diretor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos centros mais importantes do pensamento econômico heterodoxo do país, Laplane elogia principalmente a decisão do governo de tratar o crescimento como prioridade, sem negligenciar a estabilidade de preços. Para ele, o foco na tentativa de aumentar do investimento público, indicada no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), é uma boa notícia, assim como os aumentos expressivos do salário mínimo e um programa de transferência de renda como o Bolsa Família.

Laplane vê com preocupação, porém, o processo de valorização do câmbio, que trouxe o dólar novamente para a casa de R$ 1,80. Para evitar a apreciação da moeda americana, sugere a adoção de mecanismos de controle de capitais. Um dólar excessivamente barato, adverte ele, pode comprometer o processo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) a taxas mais robustas.

Laplane assume a direção do Instituto de Economia da Unicamp num momento em que economistas ligados à universidade ganham papel de maior destaque no governo - Luciano Coutinho é o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Márcio Pochmann passou a comandar o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para Laplane, num momento em que o governo dá prioridade ao crescimento, é natural que recorra a mais quadros do Instituto de Economia Unicamp: "É uma escola que sempre teve a vocação para o desenvolvimentismo".

Ele diz, no entanto, que a Unicamp sempre forneceu quadros para o governo, lembrando que José Graziano da Silva ocupou o Ministério da Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro mandato de Lula, e que os unicampistas José Serra e Paulo Renato Souza tiveram papel de destaque no governo Fernando Henrique.

No atual mandato de Lula, porém, há um tom mais desenvolvimentista, ainda que o governo esteja longe de assumir plenamente o ideário do que se costuma associar ao pensamento da Unicamp. Para Laplane, o grande acerto da segunda administração petista é ter colocado o crescimento em primeiro lugar, percebendo que apenas a estabilidade não é suficiente.

Ele avalia que o Brasil ainda não tem condições de crescer a taxas chinesas, mas vê espaço para o país avançar a um ritmo anual na casa de 4,5% nos próximos três anos e, a partir daí, tentar vôos mais altos. "Os resultados da economia têm sido animadores", diz ele, destacando a expansão robusta do investimento e a redução do nível dos juros, ainda que num ritmo mais lento do que ele gostaria. A decisão de aumentar o investimento público em infra-estrutura é outra boa notícia, diz ele.

As políticas focadas em melhorar a distribuição de renda também contam com a sua simpatia. De um lado, estimulam a demanda e impulsionam o crescimento. De outro, ajudam a corrigir as desigualdades sociais do país. "O Brasil precisa não apenas crescer, mas ter um crescimento que ao mesmo tempo promova a inclusão social." Os aumentos elevados do salário mínimo, os programas como o Bolsa Família e a elevação do emprego formal vão nessa direção.

O câmbio é motivo de preocupação para Laplane. Especializado em economia industrial, ele alerta para os riscos de que um dólar excessivamente barato pode trazer para o crescimento. As exportações de manufaturados perdem dinamismo, e o barateamento das importações traz problemas para alguns setores da indústria nacional. Laplane diz que o governo deve tentar evitar a valorização do câmbio, considerando importante a adoção de instrumentos tributários, como a cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre fluxos de curto prazo, e outras medidas de controle de capitais na entrada. "Num momento em que há abundância de capitais, nós podemos ser mais seletivos."

Laplane vê dois grandes desafios à frente do instituto. Um deles é tentar reduzir a brecha entre a universidade e a sociedade. O conhecimento gerado na primeira é pouco aplicado para melhorar a vida da população, nota Laplane. Ele também planeja aumentar o grau de internacionalização da escola. É necessário divulgar e publicar mais no exterior, trazer mais alunos e professores estrangeiros para a Unicamp e ao mesmo tempo enviar os docentes do instituto para temporadas fora do país.

Laplane destaca ainda que o curso vai manter as características presentes desde sempre: "O foco no país e a preocupação em usar a teoria e a pesquisa aplicada como instrumento para entender os problemas econômicos brasileiros.". Ele aproveita para contestar a idéia de que a escola é avessa ao uso de instrumentos quantitativos. "Isso não é verdade, basta olhar teses e dissertações produzidas por aqui. A questão é que, para nós, os instrumentos quantitativos e o tratamento de dados têm que estar a serviço da pesquisa, e não contrário", afirma Laplane. "Nós não somos dogmáticos." Laplane assumiu o cargo no dia 5 deste mês, recebendo o bastão de Jorge Tápia. Tápia ocupou o posto a partir de julho, no lugar do diretor Márcio Percival Alves Pinto, que foi para a vice-presidência de Finanças da Caixa Econômica Federal.