Título: Bush checa com Lula se pressões deram certo
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2007, Brasil, p. A8

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, telefonou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para checar se as intimidações americanas nos últimos tempos deram certo. Essa era a interpretação entre círculos negociadores em Genebra sobre a nova conversa entre os dois presidentes.

Em New York, há três semanas, Bush já tinha feito a mesma pressão para Lula interceder junto aos outros emergentes para cederem na área industrial. Em seguida, Susan Schwab, a principal negociadora americana, entrou em campo acusando o Brasil, Índia, África do Sul e Argentina de empurrarem a Rodada Doha para o fiasco por resistirem ao texto industrial em discussão na rodada. Na segunda-feira à noite, Bush telefonou a Lula, no que é visto como uma forma de ver se as pressões deram certo.

A resposta deve ter decepcionado a Casa Branca. Lula repetiu que está pronto para a barganha. Mas com duas condições: os EUA precisam mostrar ambição forte na área agrícola, com maior corte de subsídios. E o Brasil precisa de maior flexibilidade na área industrial para proteger setores sensíveis.

Bush telefonou também ao primeiro-ministro Manmohan Singh, da Índia. Mas havia dificuldades para se entender o que ele contou a Bush e o que é realidade. Singh disse que o problema indiano é na agricultura. Já o relato que chegou a Genebra de seu ministro de Comércio, Kamal Nath, reconhecia dificuldade também na área industrial. Tanto que a Índia esboçou uma proposta que está longe de mais flexível para o setor industrial em Genebra, como uma agência noticiou. É o contrário: antes, os emergentes diziam que aceitavam cortar as tarifas em 50% na média. O texto indiano sugeria agora corte entre 40% e 50%.

Por outro lado, os países pobres deram indiretamente uma dura resposta a Lula. Na terça-feira, o presidente conclamou os países mais pobres a se unirem ao G-20 para conseguir um desfecho favorável para Doha. Ontem, porém, o ACP (África, Caribe e Pacífico), com 56 nações, propôs na Organização Mundial do Comércio (OMC) algo que vai contra tudo o que o Brasil defende. O grupo de nações pobres propôs formalmente que os países que dão preferências comerciais para eles, EUA e a União Européia, sobretudo, tenham prazo de 15 anos - mais que os dez para os países em desenvolvimento - para cortar as tarifas de produtos como carne bovina, açúcar, tabaco, suco de laranja e etanol.