Título: Avião da Embraer pode ter participação estrangeira e oficial
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2007, Brasil, p. A3

A Embraer negocia associação com empresas aeronáuticas de três países emergentes para o desenvolvimento e produção de partes e componentes do avião cargueiro militar a ser construído pela empresa, o C-390, informou ao Valor o vice-presidente executivo para o mercado de defesa e governo da empresa, Luiz Carlos Aguiar. O projeto do cargueiro, que terá uma versão como avião-tanque para abastecimento de aeronaves, é calculado em US$ 600 milhões, e a Embraer negocia, também a participação do governo brasileiro no empreendimento, que viria pelo orçamento da União.

Por exigência da negociação, ainda são mantidos em sigilo os nomes dos países envolvidos, que deverão arcar com um terço dos custos do projeto e desenvolver e fabricar algumas das partes da futura aeronave. Com a parceria industrial de países em desenvolvimento, todos com tradição na indústria aeronáutica para fins de defesa, a Embraer também mira esses mercados para as futuras exportações do produto.

"Esse é um segmento de mercado com produtos de idade avançada, há 1,6 mil cargueiros em uso com mais de 25 anos", comenta Aguiar. "Em pouco tempo será necessária a troca para reposição das frotas", prevê. O novo cargueiro, que vem recebendo colaboração de técnicos da Aeronáutica na concepção do projeto, deverá ter um protótipo em 2010, e começará a ser produzido em 2012. Terá capacidade para 19 toneladas e, para conquistar o mercado, deve chegar com preço de US$ 50 milhões, bem inferior aos concorrentes, que superam US$ 70 milhões.

"As restrições orçamentárias da maioria dos governos criam um forte mercado para um avião de custo mais baixo", diz Aguiar. A Embraer é uma das empresas nacionais que vem comemorando o anúncio do governo, de apoio ao desenvolvimento da indústria nacional de defesa. A falta de orçamento nas Forças Armadas para compra de material bélico é um dos freios para a expansão da linha de produtos de defesa por indústrias no país, segundo se queixam os fabricantes.

Os empresários nacionais argumentam que os clientes desse tipo de mercadoria costumam exigir referências das Forças Armadas do país fabricante, e, se não há uso local, dificilmente há mercado.

A recente decisão de aumentar o orçamento dos comandos militares garantiu o desembolso de cerca de US$ 80 milhões para a modernização do AMX, o avião de ataque da Embraer usado pela Aeronáutica. O projeto do cargueiro, o principal item hoje na área de defesa da Embraer, vai gerar também, receita ao governo, sob a forma de royalties, ainda em negociação.

A necessidade de troca dos antigos aviões de reabastecimento aéreo deve garantir a presença do projeto nos planos de reaparelhamento das Forças Armadas, segundo se espera no Ministério da Defesa. "Os programas militares do mundo inteiro têm forte apoio dos respectivos governos", defende Aguiar. "As compras nesse setor não obedecem apenas a critérios empresariais, mas também geopolíticos", lembra ele. Neste ano, as exportações da Embraer já chegam a US$ 270 milhões e devem fechar o ano acima dos US$ 300 milhões, um dos melhores resultados da empresa, acima da média histórica, de US$ 200 milhões anuais.