Título: Projeção para balança piora e há quem veja saldo de US$ 20 bi em 2008
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2007, Brasil, p. A3

Com a perda de fôlego das exportações e o avanço veloz das importações, as estimativas para o saldo comercial estão em queda, especialmente para o ano que vem. Há quem projete um superávit inferior a US$ 20 bilhões para 2008, o que significaria um tombo expressivo em relação aos cerca de US$ 40 bilhões esperados para este ano. O câmbio valorizado e o forte crescimento da demanda doméstica devem continuar a impulsionar as importações, ao passo que as exportações tendem a enfrentar um cenário mais adverso. O consenso de mercado ainda aponta um superávit de US$ 42 bilhões em 2007 e de US$ 35 bilhões em 2008.

O economista-chefe do Morgan Stanley, Marcelo Carvalho, tem provavelmente a previsão mais pessimista para a balança em 2008, projetando um saldo de US$ 19,5 bilhões. "As importações vão continuar a crescer rapidamente, enquanto as perspectivas para as exportações são bem menos auspiciosas." Carvalho diz que a economia vai continuar a crescer com força em 2008, beneficiando-se da expansão do crédito e das condições favoráveis do mercado de trabalho, além do impacto defasado dos cortes de juros sobre a atividade. As importações, lembra ele, são bastante sensíveis ao crescimento. Para completar, o câmbio valorizado facilita as compras externas.

Carvalho pinta um quadro bem menos favorável para as exportações. Ele trabalha com um cenário mais adverso para os preços das commodities em 2008, excluindo combustíveis. Segundo Carvalho, os preços das vendas externas brasileiras mostram uma correlação elevada com as cotações desses produtos. Com base na projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que as commodities - exceto combustíveis - devem cair 7% no ano que vem, ele acredita que as exportações devem recuar 0,9% em 2008, para US$ 153,5 bilhões. As importações cresceriam 17,5%, para US$ 134 bilhões. Carvalho ressalta que esse cenário não pressupõe uma forte desaceleração global. O ponto é que as vendas externas brasileiras são muito sensíveis aos preços das commodities, diz ele, que projeta um superávit de US$ 41 bilhões neste ano. Na média móvel de três meses, com ajuste sazonal, o saldo já está na casa de US$ 35 bilhões desde agosto.

O consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, afirma que, mantido o ritmo de exportações e importações do terceiro trimestre, um saldo de US$ 20 bilhões em 2008 é factível. De julho a setembro, as vendas externas cresceram 9,3% em relação ao mesmo período do ano passado, ao passo que as compras aumentaram 31%. "É mais um exercício do que uma previsão, mas não é algo estapafúrdio", diz Almeida, ex-secretário de Política Econômica da Fazenda. Para ele, com uma economia que cresce com força e um dólar excessivamente barato, a deterioração do saldo é inevitável. Almeida nota que, com o câmbio valorizado, os próprios exportadores fazem o possível para importar mais, de modo a reduzir custos e tentar compensar o impacto negativo do dólar sobre suas vendas.

O economista Genílson Santana, da MCM Consultores, considera exagerada a projeção de um saldo de US$ 20 bilhões para 2008. Para ele, o superávit deve ficar em US$ 39,5 bilhões neste ano e em US$ 34,7 bilhões no ano que vem. "Haverá uma redução gradual do saldo", aposta ele, que vê um cenário ainda razoável para os preços de commodities. "Os outros fatores, porém, jogam contra o superávit", diz Santana, referindo-se à combinação de atividade econômica robusta, câmbio valorizado e perda de fôlego global.

O economista Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, projeta um saldo de US$ 33 bilhões em 2008. Ele ainda vê perspectivas positivas para os preços de alguns produtos exportados pelo Brasil, especialmente do complexo soja (grão, óleo e farelo) e do minério de ferro, que têm grande peso na pauta. O cenário será pior para as exportações de produtos industrializados, que, segundo ele, sofrem com o dólar barato.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, espera uma queda de 8% a 10% nas exportações de veículos neste ano. Para 2008, ele também acredita em recuo. Schneider afirma que o crescimento forte do mercado interno ajuda a explicar o declínio das exportações, assim como a perda de competitividade do produto brasileiro no exterior.

Ele evita culpar o câmbio pelos problemas do setor, dizendo que se trata de um "componente da equação macroeconômica" que tem permitido uma expansão firme da economia, mas acrescentando que o nível atual do dólar evidenciou a necessidade de medidas que tornem as empresas brasileiras mais competitivas. "Seria importante resolver o problema dos créditos de ICMS retidos dos exportadores."

As importações de veículos devem seguir em alta firme, diz Schneider. Neste ano, devem atingir 240 mil veículos, o equivalente a 10% do mercado interno. Em 2006, foram 130 mil.