Título: Para Dirceu, sucessão de 2010 influenciou cassação
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2007, Politica, p. A9

"Como se vai da imagem de um herói da resistência da ditadura a de bandido da democracia?", questionou o apresentador Antonio Abujamra ao ex-chefe da Casa Civil e ex-deputado José Dirceu. "Evidentemente devo ter cometido muitos erros, mas não esse de roubar. Erros políticos. Sou um caso inédito, até do ponto de vista da literatura. Eu virei bandido do dia para a noite e não tenho antecedente nenhum", respondeu o petista.

Dois anos depois de ter sido afastado do primeiro escalão do governo federal, o ex-homem forte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, analisa que as acusações contra ele tiveram uma motivação clara: acabar com a possibilidade de ele ser o sucessor do PT à Presidência em 2010. "Hoje, olhando o que passou e vendo a situação de 2010, eu acredito que teve peso muito grande na disposição da oposição de me tirar da Casa Civil, que começou um ano depois que eu estava lá, com o caso Waldomiro Diniz que não deu em nada", comentou em entrevista ao programa "Provocações" da TV Cultura, apresentado por Abujamra.

Desde que saiu da Casa Civil e teve seu mandato de deputado cassado, Dirceu não parou de contestar, seja pelo seu blog na internet ou em entrevistas, que não existem provas contra ele no caso do mensalão. O Supremo Tribunal Federal acolheu denúncia contra ele nos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha. Na entrevista de ontem, reclamou que as denúncias envolvendo o PT têm mais repercussão e alarde do que as contra o PSDB. "A pretexto de combater caixa dois e denúncias de corrupção, o que se tentou foi inviabilizar o governo do Lula, fazer o impeachment", disse. " Daí se aproveitou para eliminar a direção do PT, a liderança na Câmara e o núcleo do governo. Isso não para. Agora começou campanha contra Ideli Salvatti (líder do PT no Senado)."

Como réu, Dirceu minimiza o resultado de seu futuro julgamento. Para ele, será um resultado sem validade histórica. "Será um julgamento político. Terá jurídica, mas não histórica". Para ele, a história vai analisar que o governo Lula foi injustiçado, assim como foram os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas. O petista, entretanto, reclamou que já foi condenado, antes da decisão da Justiça. "A medida como fui exposto, mesmo que seja absolvido pelo Supremo, fui condenado e cumpri pena".