Título: Gaúchos em alerta com a seca
Autor: Álvares, Débora; Santana, Ana Elisa
Fonte: Correio Braziliense, 24/01/2011, Brasil, p. 8

TRAGÉDIA BRASILEIRA Cidades do Rio Grande do Sul preparam-se para evitar que a estiagem prejudique suas atividades econômicas e o cotidiano dos moradores. Ainda assim, os prejuízos causados já chegam a R$ 140 milhões

Enquanto alguns estados do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, sofrem com fortes chuvas, enchentes e deslizamentos, o governo do Rio Grande do Sul está em alerta para enfrentar a seca que começa a prejudicar a economia da região. Onze cidades localizadas no sudeste do estado decretaram situação de emergência e o município de Aceguá, distante cerca de 430 quilômetros da capital, Porto Alegre, deve ser o 12º da lista. A prefeitura municipal já enviou um decreto de situação de emergência à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil gaúcha.

Em todos os municípios afetados, os prejuízos ultrapassam os R$ 140 milhões, segundo a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Agronegócios do estado. Lavras do Sul, que decretou estado de emergência no último dia 11, contabiliza R$ 31,5 milhões de perdas devido à estiagem. Segundo o vice-prefeito, Paulo César dos Santos, a agricultura de sustentação local sofreu perda superior a 80%. A seca atingiu todo o interior do município e as propriedades precisam ser abastecidas com água potável e cestas básicas. O produtor de gado Rafael Abascal é um dos prejudicados. Ele afirma que o rebanho de bezerros deve ser 40% menor neste ano. ¿O problema é que, no ano que vem, nosso rendimento também vai ser menor porque a produção deste ano tem efeito no próximo¿, lamenta ele, que também teve plantações de arroz prejudicadas. ¿Isolamos parte da lavoura por falta de água.¿

Vítimas fatais Apesar da situação alarmante nesses municípios devido à estiagem, outras seis cidades do estado foram atingidas por enxurradas. Quatro delas ¿ Arroio do Sal, Torres, Terra de Areia e Três Cachoeiras ¿ decretaram estado de emergência, segundo a Defesa Civil do Rio Grande do Sul. O mesmo tem ocorrido em Santa Catarina, estado vizinho. Até ontem, as autoridades estaduais registraram cinco mortes e 17,3 mil pessoas desabrigadas ou desalojadas por conta das chuvas.

Além do Rio de Janeiro, que teve a região serrana devastada na última semana, Minas Gerais enfrenta situação alarmante. Um balanço da Defesa Civil mineira aponta 94 cidades em estado de emergência devido a enchentes que já atingiram 145 municípios. As chuvas também destruíram mais de 100 pontes e danificaram outras 360. Em São Paulo, 61 municípios pediram socorro, segundo a Defesa Civil estadual. A capital paulista tem sofrido com constantes inundações, que provocaram, na sexta-feira, queda de árvores e falta de energia.

Mudanças climáticas O tamanho continental do Brasil, com área de mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, permite a atuação de diversos fenômenos climáticos na mesma época (veja arte). Segundo a meteorologista do grupo do clima do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Ariane Frassoni, o Rio Grande de Sul é intensamente afetado pelo fenômeno La Niña. Ela explica que o fator muda a circulação dos ventos e provoca a passagem mais rápida das frentes frias, impossibilitando chuvas.

Zonas de convergência dos canais de umidade também atuam sobre o estado e o restante da Região Sul. Elas saem da Amazônia, passam pelo Centro-Oeste e chegam ao Sudeste, formando um corredor de umidade, segundo o meteorologista do Inpe José Felipe Farias. No Norte do país há ainda a atuação da zona de convergência intertropical ¿ áreas de baixa pressão que favorecem a formação de nuvens.