Título: Ex-executivo no Brasil nega envolvimento no caso
Autor: Moreira, Talita; Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2007, Tecnologia & Telecomunicações, p. B3

O ex-presidente da Cisco no Brasil, Rafael Steinhauser, afirmou, ontem, desconhecer qualquer irregularidade na empresa durante sua gestão, de 2002 a 2006. Steinhauser lembrou que as regras para empresas de capital aberto americanas são rígidas e que as companhias devem seguir a legislação dos países em que operam, sob o risco de fortes penalidades.

Atual presidente da Nextwave Wireless para a América Latina, Steinhauser está em Buenos Aires a negócios e nega ter sido procurado pela polícia. Por ordem do juiz federal Alexandre Cassetari, da 4ª Vara Federal Criminal, a lista das 44 pessoas que tiveram contra elas um mandado de prisão preventiva expedido é mantida em sigilo.

A Cisco está sendo acusada de participar de um esquema fraudulento de sonegação fiscal, que pode ter causado prejuízos de R$ 1,5 bilhão ao Fisco nos últimos cinco anos. "Eu seria o primeiro a reagir caso soubesse que a empresa em que trabalho está desrespeitando a legislação de um país", afirmou. O executivo acrescentou que, durante sua administração, sua função era meramente comercial. Ele negou que tivesse acesso às faturas e afirmou que o presidente de fato, com poder estatuário, era o então vice-presidente para a América Latina e Caribe, Carlos Carnevali. Carnevali, juntamente com o atual presidente da Cisco Brasil, Pedro Ripper, foi preso na operação Persona, da Polícia Federal, Receita Federal e do Ministério Público Federal, que investiga as irregularidades e desbaratou o esquema.

Steinhauser preferiu não fazer comentários sobre a gestão atual: "Acho que seria muito indelicado falar sobre uma empresa da qual já me desliguei. Me sinto em uma situação deselegante".

Segundo os investigadores, os envolvidos subfaturavam o preço do equipamento e superfaturavam o do software, cuja alíquota de imposto é menor. Com isso, mantinham o preço final, mas pagavam menos imposto. Na terça-feira foram expedidos mandados de prisão contra 44 pessoas, sendo que 40 haviam sido presas até o fim da tarde do mesmo dia. O esquema de importação, criado por empresários brasileiros para beneficiar a multinacional americana Cisco Systems e sua subsidiária no país, permitia que os produtos da empresa fossem vendidos a um preço 50% mais barato que os nacionais no Brasil.

A Polícia Federal e a Receita Federal também solicitaram às autoridades americanas a prisão de cinco brasileiros nos Estados Unidos, acusados de envolvimento no esquema de fraude em importações de equipamentos e software. Dos 40 pedidos de prisão cumpridos, 27 foram em São Paulo, oito em Salvador, quatro em Campinas (SP), dois no Rio, dois em Ilhéus (BA) e um em Santos (SP).