Título: Ricaços compram ilhas artificiais no Golfo
Autor: Landim, de Doha , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2007, Empresas, p. A4

Nove ricaços desembolsaram mais de US$ 25 milhões cada por uma ilha artificial no Golfo Pérsico. Este valor foi gasto com os 20 mil metros quadrados de área, pois os proprietários serão responsáveis por construir suas mansões. É a fatia mais exclusiva de um dos empreendimentos imobiliários mais caros de uma região conhecida pela abundância de petróleo e de luxo.

Situada no Qatar a apenas 350 metros da costa da capital Doha, o "Peróla" foi planejada para ser um dos endereços mais balados do mundo. Quando a obra estiver finalizada em 2011, viverão nesse "paraíso fabricado" cerca de 40 mil pessoas em 15 mil residências, divididas em três blocos de apartamentos, diferentes tipos de mansões, além, é claro, das charmosas nove ilhas isoladas. O valor total estimado para o empreendimento completo é de cerca de US$ 13 bilhões.

Por enquanto, o local é um imenso canteiro de obras, tomado por caminhões, gruas e tratores, onde as primeiras torres começam a despontar. Com uma boa dose de imaginação e a ajuda de uma maquete na área de vendas, é possível apenas visualizar o projeto. Mesmo assim, 100% do primeiro bloco de apartamentos, 75% do segundo e 60% das "vilas" (mansões) já foram vendidos.

Segundo a gerente sênior de relações com a imprensa, Mira Baf, 50% das vendas foram feitas para pessoas físicas e 50% para investidores. Entre os principais compradores dos diversos tipos de imóveis do complexo, estão os cidadãos dos países do Golfo, americanos e ingleses. A empresa não revela a identidade de seus clientes, mas especula-se que quatro brasileiros de São Paulo estejam entre os proprietários.

A "Peróla" não ganhou esse nome apenas pelo design e pela exclusividade. Até meados da década de 50, a extração de perólas era a atividade mais rentável do Qatar, antes da chegada do petróleo e do gás. Outro fator também ajudou na escolha do nome. Principal acionista da United Development Company (UDC), incorporadora responsável pelo projeto, Hussein Al Faudan é um dos empresários mais famosos do Qatar e dono de uma das maiores coleções de perólas do mundo. A UDC é a maior empresa de capital aberto do país.

-------------------------------------------------------------------------------- Cada uma das nove ilhas do empreendimento custa mais de US$ 25 milhões e tem 20 mil m2. Todas foram vendidas. --------------------------------------------------------------------------------

O suntuoso projeto pretende ser um dos cartões de visita do Qatar. Apesar de ser um investimento privado, conta com o apoio do emir do país, Hamad Bin Khalifa Al-Thani. Mais do que oferecer sua simpatia, o emir abriu uma exceção para a "Peróla" que é fundamental para o sucesso do negócio e para a aceitação do Qatar no cenário mundial como um lugar seguro para investir. Esse é o primeiro empreendimento do país em que um estrangeiro pode adquirir 100% do imóvel e deixá-lo como herança para a família. Como na maioria dos países islâmicos, expatriados não têm direito a comprar propriedades no Qatar. Recebem apenas uma concessão do governo que deve ser devolvida após 99 anos.

A especulação financeira em torno do projeto é intensa e o valor do metro quadrado sobe dia-a-dia. O imóvel mais barato que se pode adquirir na "Peróla" é um estúdio. Em 2004, quando as vendas começaram, custava US$ 200 mil. Hoje não sai por menos de US$ 400 mil - o dobro do preço. "O retorno de um investimento aqui é 100% garantido", diz Mira. Ela conta que, em um dos blocos de apartamentos, a UDC é dona de apenas uma torre. As 28 restantes pertencem a diferentes construtoras, que compraram o terreno, estão erguendo os prédios dentro dos padrões e comercializarão os apartamentos pelo preço que quiserem.

A "Peróla" é um projeto dividido em diversos tipos de residências. A primeira fase é o "Porto Arábia", que deve estar pronto em 2008. Já totalmente vendido, promete ser o "coração" do lugar. É formado por torres de apartamento em formato circular, voltadas para uma marina com espaço para 400 barcos. No centro da baía, uma pequena ilha que será destinada a um hotel cinco estrelas, que a rede Four Seasons conseguiu adquirir recentemente. Na passarela de 2,5 quilômetros, chamada "La Croissette", estarão lojas e restaurantes. O ponto alto será a "Arabian Piazza", onde ficarão as joalheiras e as concessionárias de carros de luxo.

A poucos minutos de carro, estará a "Viva Bahriya", outro círculo de torres de apartamentos construídas no estilo marroquino também voltadas para o mar. Mas o ambiente será mais familiar: apenas residências e uma praia acessível e segura para as crianças. Esta fase também já foi 75% vendida. Entre os dois blocos de apartamentos, estará a "Medina Central", espaço reservado para cinemas, supermercados, escolas e outros tipos de serviços, além de uma mesquita. Essa fase ainda não foi colocada à venda, mas já está na mira das grandes cadeias de varejo.

Completam o projeto as "vilas" com suas praias exclusivas, onde não é permitido chegar nem de barco; um bairro chamado de "Qanat Quartier", que imitará a arquitetura de Veneza; além de um bloco de torres de apartamentos ainda maiores e de estilo mais moderno. Com exceção das "vilas", as demais fases ainda não foram colocadas à venda. E para finalizar, a jóia mais preciosa da "Peróla": a "Isola Dana", formada pela nove ilhas isoladas e exclusivas, para onde só haverá acesso de barco. Com o abundante dinheiro do petróleo, os árabes parecem dispostos a fazer com que os ricaços que apostaram no empreendimento e gastaram US$ 25 milhões em uma ilha artificial não sintam saudades de Mônaco ou da Riviera Francesa.