Título: Copom mantém Selic e atrai dólar
Autor: Ribeiro , Alex; Guimarães, Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2007, Finanças, p. C1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu por unanimidade manter inalterados, em 11,25% ao ano, os juros básicos da economia, interrompendo um processo de distensão monetária iniciado em setembro de 2005, que incluiu 18 cortes na Selic.

No breve comunicado divulgado ontem, não há indicações claras se os juros poderão ser mantidos inalterados também na próxima reunião, em 4 e 5 de dezembro. Na nota, o BC se refere à manutenção dos juros como "uma pausa" no processo de flexibilização monetária. Essa expressão indica que o BC tem intenção de retomar os cortes em algum momento, mas sem indicar exatamente quando. O comunicado diz que, "avaliando a conjuntura macroeconômica, o Copom decidiu, por unanimidade, fazer uma pausa no processo de flexibilização da política monetária e manter a taxa Selic em 11,25%".

Maiores detalhes sobre a decisão só serão conhecidos na semana que vem, quando será divulgada a ata da reunião de ontem. Mas a possibilidade de interrupção na queda de juros já era amplamente esperada pelo mercado financeiro, depois de o BC ter indicado nos seus documentos oficiais que se acirraram os riscos de a inflação ficar maior do que o esperado.

No seu relatório de inflação, divulgado há três semanas, o BC projeta para 2008 uma inflação de 4,2%, portando abaixo da meta de 4,5% definida para o ano. A projeção de inflação abaixo da meta significa que, em tese, há espaço para a taxa básica cair ainda mais - daí o BC ter indicado que, apesar da pausa de ontem, ainda vivemos um processo de flexibilização na política monetária. Mas, por outro lado, a autoridade monetária vem enfatizando os riscos de a economia se aquecer mais do que o previsto, acelerando a inflação. Por isso, a preocupação de ir mais devagar nos cortes de juros.

Um texto divulgado no relatório lembra que as decisões de política monetária repercutem com defasagem sobre a economia. Cortes de juros decididos agora atingem a atividade econômica em um período de seis meses, e a inflação, em nove. Por esse critério, a maior parte dos cortes de juros decididos a partir de setembro de 2005 já se materializou nas taxas de inflação. No período, a taxa caiu 8,5 pontos percentuais. Mas os cortes feitos desde janeiro, que somam 1,75 ponto percentual, ainda não foram plenamente absorvidos pela economia.

Ao estabilizar a Selic em 11,25%, o Copom poderá incentivar o ingresso de capital externo especulativo de curto prazo interessado em arbitrar taxas e auferir a rentabilidade real paga pelo juro interno, de 7,1%, a segunda maior do mundo, só perdendo para o juro real turco, de 9,1%. Isso poderá acontecer se, como prevê o mercado internacional, o Federal Reserve (Fed) decidir cortar de novo a taxa básica americana em sua reunião do próximo dia 31. A expectativa dos analistas internacionais é de que o Fed irá reduzir o juro de 4,75% para 4,50%. Essa estimativa foi revigorada ontem por indicadores muito negativos sobre o setor imobiliário americano. O risco de contágio à economia é muito maior do que a preocupação com a inflação. Nessa hipótese irá aumentar o diferencial de juros entre a Selic e os fed funds. Até ontem em 6,21%, o diferencial crescerá para 6,46% se o Fed diminuir o juro.

Para os analistas, o estímulo dado pelo Copom ao investimento externo especulativo poderá trazer rapidamente o dólar para o degrau de R$ 1,70. Essa cotação reabrirá a possibilidade de o Comitê retomar o processo de declínio da Selic já no primeiro trimestre de 2008. Mas, por enquanto, o BC não está preocupado com isso. A manutenção da Selic e o inesperado placar por unanimidade - além das explicações relativas ao impacto do aquecimento da demanda sobre o IPCA do ano que vem - visaram reinvestir a ata como principal veículo de sinalização das suas intenções. Até a reunião de julho, o BC se utilizou dos placares divergentes para indicar os próximos passos da política monetária. Desde setembro, ao reintroduzir a coesão dos sete membros do Copom, faz uso da ata e do Relatório de Inflação para alertar as providências futuras. E ontem ele fez exatamente aquilo que disse que iria fazer tanto na ata quanto no relatório. Ignorou completamente tanto o declínio do dólar quanto a desaceleração do IPCA.

Para Paulo Gurgel Valente, da Profit Consultoria, o segredo da decisão de ontem foi falar em "pausa no processo de flexibilização" e não em manutenção da taxa. "A pausa dá a entender que vamos de fato continuar no futuro próximo a reduzir a taxa, uma medida inteligente", diz ele.