Título: Opep tem pouca condição de aliviar preço do petróleo
Autor: Jr, Neil King
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2007, Internacional, p. A14

O preço do petróleo está perto de níveis recordes, mas os países importadores não devem esperar um alívio imediato por parte do cartel de países produtores, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Por várias razões, a Opep não tem o poder ou a motivação para abrir as torneiras e baixar a cotação do petróleo, que chegou a passar dos US$ 90 o barril na semana passada. Os contratos futuros de petróleo fecharam ontem a US$ 85,27 o barril em Nova York.

Analistas dizem que o cartel pode dar um pequeno passo rumo ao aumento da produção, seja durante uma reunião de chefes de Estado na Arábia Saudita, no mês que vem, ou numa reunião de ministros em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, no início de dezembro. A alta cotação alimentou os temores entre alguns integrantes da Opep de que os custos da commodity possam provocar uma recessão nos EUA, o maior consumidor do mundo, e diminuir a demanda mundial por petróleo.

Mas representantes da Opep insistem que turbulências geopolíticas e especulação é que estão por trás da alta deste ano, e não os limites na produção. Qualquer medida para aumentar a produção suplementaria a decisão do cartel, no mês passado, de acrescentar 500 mil barris diários ao suprimento mundial a partir de 1º de novembro, uma atitude que fez pouco para acalmar o mercado.

O cartel, que abastece quase 40% da demanda mundial de 86 milhões de barris diários, tem pouco mais de 2 milhões de barris diários de capacidade extra, quase toda na Arábia Saudita, segundo as estimativas.

Usar agora uma fatia grande dessa capacidade enfraqueceria o poder dos grandes produtores de intervir depois caso os preços venham a subir ainda mais.

A Opep e seu líder informal, a Arábia Saudita, lutaram por mais de um ano para garantir a capacidade do cartel de equilibrar as variações na cotação. Mas a estreita margem entre a limitada oferta mundial e a demanda crescente resulta em fortes variações de preço, em ambas as direções. A capacidade saudita de influenciar os mercados também é prejudicada por uma período de até três meses para que novos carregamentos cheguem ao mercado.

Por volta de outubro de 2006, com a cotação perto de US$ 60, ministros da Opep fecharam acordo para diminuir a produção em 1,2 milhão de barris diários, ou cerca de 4%, para tentar secar o que eles viam como estoques internacionais grandes demais.

O cartel fechou acordo para garantir um segundo corte, de 500 mil barris diários, em dezembro. Mas a cotação do petróleo respondeu com uma queda abrupta em janeiro, para US$ 50, a mais baixa desde meados de 2005. No final da semana passada, a cotação chegou a US$ 89,47, um recorde.

A turbulência ressuscitou um debate antigo sobre se a Opep tem alguma capacidade real de influenciar um mercado que se tornou cada vez mais complexo desde o auge do cartel, em meados dos anos 70. "A Opep virou mais uma organização que responde aos acontecimentos, em vez de causá-los", diz Joseph Stanislaw, analista de energia na Deloitte & Touche USA LLP. "A Opep pode prometer, mas nem sempre pode cumprir a promessa."

Autoridades do cartel e ministros dos países-membros também manifestaram irritação semelhante nos últimos dias, argumentando que a alta não tem nada a ver com a única alavanca que eles controlam. "O mercado está muito bem suprido", disse o secretário-geral da Opep, Abdalla Salem El-Badri, numa declaração na semana passada. A alta dos preços, disse ele, estava "em grande parte sendo impulsionada por especuladores do mercado", apesar de ele citar gargalos nas refinarias, a desvalorização do dólar e turbulências geopolíticas como outros fatores.

O poderoso ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali Naimi, se gabou de que a Opep agora está imune a disputas políticas internas. Mas países-membros como o Irã e a Venezuela, frente à queda em suas produções e vários problemas econômicos internos, têm interesse em manter a oferta baixa e a cotação alta. A Arábia Saudita, por outro lado, se vê mais como timoneira da economia mundial.

Há algum tempo que o cartel está obcecado com o crescimento dos estoques governamentais e particulares nas economias dos países ricos e o papel do capital especulativo que aposta somas vastas na alta do petróleo. As duas forças aumentaram a imprevisibilidade do mercado.