Título: Nos EUA, estímulo à produção de álcool custará US$ 11 bi
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2007, Especial, p. A20

Os investimentos feitos pelos Estados Unidos para estimular a produção doméstica de etanol vão superar os gastos do governo com subsídios agrícolas a partir do próximo ano, num reflexo da enorme importância política que a indústria alcançou nos EUA nos últimos anos.

De acordo com um estudo divulgado ontem em Washington, os EUA deverão gastar neste ano US$ 8,4 bilhões com subsídios à produção de etanol e US$ 11 bilhões no ano que vem, quando se espera um aumento na produção americana com a entrada de novas usinas em operação.

Os programas de subsídio à produção agrícola deverão custar no ano que vem US$ 11,5 bilhões. Mas grande parte dos subsídios agrícolas é destinada a produtores de milho, a matéria-prima usada para fazer etanol nos EUA, e uma fatia crescente da produção americana de milho tem sido vendida às usinas.

O principal subsídio que os produtores de etanol recebem nos EUA é um crédito tributário equivalente a US$ 0,51 por galão, que é pago às refinarias que misturam o álcool à gasolina. O incentivo deverá custar US$ 6,3 bilhões no ano que vem. O estudo estima em US$ 740 milhões a parcela dos subsídios do milho cujos benefícios serão apropriados pelas destilarias em 2008.

O trabalho foi feito pela Earth Track, uma consultoria que monitora os subsídios americanos há muitos anos e fez o estudo por encomenda do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD), uma organização canadense. O IISD também financiou um estudo sobre subsídios à produção de biodiesel na Europa e tem outro sobre o Brasil em andamento.

O estudo mostra que a produção de etanol nos EUA seria inviável economicamente sem a ajuda do governo. De acordo com os cálculos da Earth Track, cada galão de etanol produzido nos EUA receberá neste ano pouco mais de US$ 1 em subsídios, o equivalente a 56% do preço médio do produto no varejo.

"Subsidiar o etanol como os EUA têm feito é uma forma ineficiente de buscar segurança energética", disse o presidente da Earth Track, Doug Koplow. Praticamente todos os Estados americanos têm incentivos locais que ampliam os efeitos dos subsídios federais e alguns têm mais de vinte programas diferentes para apoiar a indústria.

Projetos atualmente em discussão no Congresso podem aumentar ainda mais os custos dos subsídios, ao obrigar as refinarias americanas a consumir um volume de etanol até cinco vezes maior do que o atual. Há também várias propostas que criam subsídios novos, especialmente para incentivar o desenvolvimento do etanol celulósico, feito de diversos resíduos vegetais.

Koplow acha que o melhor seria mudar a atual estrutura de subsídios para eliminar as diferenças entre as várias alternativas disponíveis, incluindo o etanol de milho, o celulósico e o importado de países mais competitivos como o Brasil, onde o combustível é feito de cana-de-açúcar. Koplow também sugere que os incentivos sejam reduzidos sempre que os preços internacionais do petróleo caírem. A íntegra do estudo está disponível em www.globalsubsidies.org