Título: Ex-controlador da Caemi aposta alto em madeira
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2007, Empresas, p. B1

A Companhia do Vale do Araguaia, novo investimento de Guilherme Frering, herdeiro e ex-controlador da Caemi, surge com missão ambiciosa: ser um dos maiores fornecedores globais de madeira teca, produzida a partir de árvore alta e de folhas largas originária da Ásia. A empresa começa a operar como sociedade anônima de capital fechado, mas poderá listar ações em bolsa. Em cinco anos, a companhia vai investir entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões no Brasil na compra de terras, formação de florestas, incluindo viveiro, e instalação de uma ou mais serrarias para agregar valor à madeira.

Os investimentos na Cia. Vale do Araguaia serão feitos com recursos próprios da empresa, idealizada e criada por Guilherme, em 2005. Juntamente com seu irmão, Mário, ele vendeu, em fevereiro de 2001, o controle acionário da Caemi, fundada pelo seu avô, Augusto Trajano de Azevedo Antunes, para a Companhia Vale do Rio Doce, por US$ 332 milhões.

Hoje Frering é o principal investidor na Araguaia, na qual participa por meio da empresa Real Teak, mas a médio prazo outros sócios poderão entrar. A companhia contratou a consultoria The Blackstone Group para avaliar o momento oportuno e o interesse de investidores nacionais e estrangeiros capazes de acelerar o crescimento da nova empresa.

Até janeiro ou fevereiro a Cia. Vale do Araguaia terá dois mil hectares plantados com mudas de teca (tectona grandis) nos municípios de Água Boa (MT) e de Mozarlândia (GO) onde a empresa é dona de fazendas. A área plantada vai dobrar até o fim do ano que vem quando atingirá 4 mil hectares. Por volta de 2030, o plano da Araguaia é ter 52 mil hectares plantados com 80 milhões de árvores de teca não só no Centro-Oeste.

Estados do Nordeste como a Bahia também têm potencial para o plantio desta espécie, que tem alto valor de mercado e se caracteriza pela beleza e durabilidade com aplicações variadas, entre as quais mobiliário para áreas externas, pisos, painéis, construção náutica e produtos decorativos. O preço da madeira teca serrada em padrões equivalentes à que será produzida pela Araguaia varia de US$ 650 a US$ 2,5 mil por metro cúbico, dependendo da idade e qualidade da madeira e da consistência no fornecimento do produto.

Leonardo Pereira, presidente da Cia. do Vale do Araguaia, diz que a empresa quer distribuir as vendas entre os mercados interno e externo. O foco será vender a madeira serrada e certificada, que começará a chegar ao mercado em 2012, para segmentos como construção civil e indústria de móveis e assoalhos. "Já temos contatos com potenciais compradores", diz Pereira. Segundo ele, o planejamento da empresa prevê a compra de mais de 90 mil hectares nos próximos anos, não só em Goiás e Mato Grosso.

No total, a empresa terá cerca de 100 mil hectares de terras próprias, sendo 52 mil hectares para a formação de florestas e o restante destinado a áreas de reservas, infra-estrutura e estradas. Pereira afirma que a área a ser plantada nos próximos 20 anos permitirá à empresa produzir 377 mil metros cúbicos de madeira serrada por ano a partir do final do primeiro ciclo de produção, volume que seria equivalente a cerca de 10% do comércio mundial de teca em 2006, segundo dados da própria empresa.

O cultivo de teca da Araguaia seguirá um ciclo de 22 anos, desde o plantio, com desbastes intermediários aos 6, 12 e 17 anos. Estudo encomendado pela Araguaia a um instituto internacional especializado em indústrias florestais aponta que o comércio mundial de teca é de 3,3 milhões de metros cúbicos por ano com os países da Ásia respondendo por 70% do volume total comercializado.

Pereira prevê que ao final do primeiro ciclo de plantio a empresa possa ter participação entre 7% e 8% no comércio mundial de teca. "Queremos ser um competidor global com fornecimento de madeira de forma sustentável", diz o executivo, que estava na NET Serviços antes de assumir a presidência da Araguaia.

Hoje a empresa tem 160 funcionários e mantém em seu estatuto social elementos de governança corporativa que fazem parte de empresas de capital aberto. O conselho de administração da Cia. do Vale do Araguaia é presidido por Francisco Gros, ex-presidente do BNDES e Petrobras, que atualmente está na OGX.