Título: Lucro do Bradesco aumenta 32,7%
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2005, Finanças, p. C10

O Bradesco anunciou ontem o lucro líquido recorde de R$ 1,058 bilhão no quarto trimestre, fechando o ano com o resultado de R$ 3,06 bilhões. O retorno sobre o patrimônio líquido médio atingiu 31,7% no trimestre e 22% no ano, entusiasmando os investidores. As ações preferenciais do banco dispararam 3,08% para R$ 64,41, em um dia em que o índice Bovespa teve alta de 1,59%. "O ano de 2004 foi excelente para o Brasil e para o Bradesco e 2005 está no bom caminho", disse o presidente do banco, Márcio Cypriano, em entrevista para comentar o balanço. Cypriano atribui o aumento significativo de 32,7% do resultado à expansão do crédito, especialmente para pessoas físicas, ao crescimento da base de clientes, à melhora operacional garantida pela segmentação e incorporação das aquisições recentes e ao controle de despesas. O resultado do quarto trimestre superou a expectativa da maioria dos analistas. Pedro Guimarães, analista do ING, afirmou que o Bradesco foi beneficiado pelo movimento de busca de segurança dos investidores, que procuraram os maiores bancos após a intervenção do Banco Santos, oferecendo recursos a custo baixo. "No cenário atual de aumento dos juros isso representa uma clara vantagem e reforça a posição do Bradesco no mercado", afirmou o analista aos clientes. Cypriano negou que tivesse registrado esse tipo de movimento, lembrando que os investidores institucionais normalmente tem limites para suas aplicações.

No entanto, a captação do Bradesco foi forte no quarto trimestre. Os depósitos totais cresceram 18,3% no ano e 6% apenas no quarto trimestre, para R$ 68,6 bilhões, equivalentes a 91,5% da carteira de crédito. A carteira de crédito do Bradesco cresceu 15,56% em 2004 - 4,7% no quarto trimestre -, para R$ 62,788 bilhões, em comparação com R$ 54,336 bilhões em dezembro de 2003. O crescimento só não foi maior porque a carteira de pessoas jurídicas caiu 6,9%, de R$ 24,6 bilhões em 2003 para R$ 22,9 bilhões em 2004, pelo impacto da queda de 8,13% do dólar nas operações indexadas ao câmbio e expansão do mercado de capitais doméstico. As outras carteiras, porém, de pequenas e médias empresas e pessoas físicas, dispararam. Como envolvem operações com spread maior, o resultado foi compensador. As operações com pequenas e médias empresas cresceram 32,6%, de R$ 14,1 bilhões em 2003 para R$ 18,7 bilhões em 2004; e a carteira de pessoas físicas saltou 35,9%, de R$ 15,6 bilhões para R$ 21,2 bilhões. Neste ano, Cypriano acredita que o crédito vai crescer em todos os segmentos (ver matéria nesta página). Cypriano chamou a atenção para o aumento de 35,2% do financiamento ao consumo, de R$ 12,8 bilhões em 2003 para R$ 17,3 bilhões em 2004. E destacou ainda o financiamento de veículos, a cargo da Finasa, que cresceu 41,1%, de R$ 7,3 bilhões para R$ 10,3 bilhões. "Financiamos a venda de 1,1 milhões de veículos, metade da produção nacional", comparou Cypriano. A Finasa, disse o diretor vice-presidente, José Luiz Acar Pedro, dobrou a rede com a incorporação do Zogbi, com presença em 14 mil revendas de veículos e 18 mil lojas de varejo de móveis, material de construção, informática, eletrodomésticos e vestuários. O aumento do volume de crédito compensou a redução dos spreads e da taxa média de juros. Apesar de a taxa básica (Selic) ter subido no ano passado de 16,50% ao ano para 17,75%, a taxa interbancária acumulada recuou de 23,26% para 16,20%. Com isso, a receita de crédito teve uma expansão de 3,55%, de R$ 12,294 bilhões para R$ 12,731 bilhões. A receita de títulos até caiu, 37,2%, de R$ 7,833 bilhões para R$ 4,921 bilhões. A margem financeira ficou praticamente inalterada em R$ 13,231 bilhões. Uma vantagem foi a melhoria da qualidade da carteira, garantida, disse Acar Pedro, pelo crescimento da economia, do emprego e da renda. As operações com rating de AA a C cresceram de 91,2% da carteira em dezembro de 2003 para 92,3% em dezembro passado. Por isso, as despesas com provisões puderam ser reduzidas em 16,65%, de R$ 2,45 bilhões em 2003 para R$ 2,04 bilhões em 2004. Mas o saldo de provisões cresceu, de R$ 4 bilhões para R$ 4,1 bilhões, equivalente a 6,6% da carteira, sendo que o excedente aumentou de R$ 859 milhões para R$ 925 milhões. Apesar disso, a participação das operações de crédito no lucro do Bradesco diminuiu ligeiramente, de 35% em 2003 para 32% no ano passado, enquanto a fatia de seguros e a de títulos ficou estável em 29% e 13%, respectivamente, e a de serviços subiu de 24% para 26%. O banco aumentou a receita de serviços em 27,8%, de R$ 4,557 bilhões para R$ 5,824 bilhões. Isso foi consequência, segundo Acar Pedro, do aumento de 1,2 milhão da base de clientes para 15,7 milhões; de 5,3 milhões da base de cartões e de 20% dos recursos administrados. Além disso, somente o Banco Postal agregou 2 milhões de contas, atingindo a marca de 3 milhões. Desses clientes, 58% ganham até R$ 240 por mês.