Título: Preço de estréia em bolsa despenca no pós-crise
Autor: Valenti, Graziella ; Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2007, Empresas, p. B3

As ofertas de ações de outubro confirmam: o preço que os investidores estão dispostos a pagar pelas novatas despencou. Acostumados a ver os aplicadores fazer fila para levar os papéis que vendiam, os bancos de investimento tiveram que suar a camisa para fechar as últimas operações sem frustrar completamente as expectativas dos controladores das empresas. A exceção é a oferta pública da Bovespa, cuja definição de preços será feita hoje e que tem atraído um interesse fora do comum.

As cinco companhias que vieram para a bolsa em outubro até ontem e as outras duas que haviam desembarcado em setembro já tiveram uma avaliação bem mais conservadora. Ainda assim, todas as sete ofertas iniciais de ações saíram no piso da faixa indicativa, ou muito próximo dele . A construtora Helbor, que teve seu preço fechado ontem, saiu abaixo do intervalo sugerido, repetindo o que havia acontecido com a Trisul na semana passada.

O setor de construção ilustra bem o movimento por conta do grande número de companhias listadas. Entre o fim de 2006 e meados deste ano, não era raro que uma empresa do setor chegasse à bolsa valendo mais de 20 vezes o lucro esperado para o ano seguinte. Na operação da Tenda, fechada na semana passada, a companhia foi avaliada pelos investidores em 7,6 vezes o seu lucro de 2008 e apenas 4,1 vezes o ganho esperado para 2009. A história se repetiu com a Trisul, que apresenta múltiplos de 7,9 e 3,7, respectivamente.

O desconto dessas construtoras é relevante mesmo quando comparado à cotação atual das pioneiras do setor, que recentemente passaram por uma correção de preços. A Klabin Segall, por exemplo, vale atualmente em bolsa 11,8 vezes o seu lucro projetado para o ano que vem e 8 vezes o de 2009. A diferença se amplia ainda mais frente às maiores do setor, como Cyrela, Rossi e Gafisa .

"Acabou o oba-oba e é definitivo", diz Aristides Jannini, diretor do banco WestLB. Segundo ele, os investidores não se impressionam mais com qualquer novidade. "Depois do ajuste das bolsas, o ambiente ficou favorável aos compradores de ações e várias ofertas tiveram dificuldade para sair", diz Paulo de Sá Pereira, diretor de renda variável da Fundação Cesp. Além disso, completa ele, com exceção da varejista Marisa, todas as novatas do mês já caíram em relação ao preço de lançamento.

Não é que a demanda tenha desaparecido. Houve procura por parte dos investidores (em alguns casos, equivalente a três vezes a oferta), mas a um preço baixo. E a seletividade aumentou. A própria quantidade de operações exigiu que fossem feitas escolhas. A chefe de análise do Banif Investment Banking, Catarina Pedrosa, conta que um cliente da instituição, recentemente, apontou uma pilha de prospectos de estreantes e disse que só uma seria avaliada.

"Antes de dar o dinheiro, o investidor agora quer saber para quê a companhia o quer. Não adianta ser sócio de empresa capitalizada que não sabe o que fazer c om o caixa", ressalta Jannini. Os exemplos da holding de shoppings BR Malls e da PDG Realty confirmam isso. Embora ambas pertençam de certa forma ao setor imobiliário, voltaram ao mercado na semana passada com sucesso.

O outro lado da moeda é que as empresas têm colocado menos dinheiro no caixa e os controladores, no bolso. As sete ofertas concluídas de setembro até ontem poderiam ter movimentado R$ 4,8 bilhões, com base no preço máximo indicado ao mercado. No entanto, a captação limitou-se a R$ 3,6 bilhões, deixando R$ 1,2 bilhão para trás.

Apesar disso, pretendentes não param de chegar à Comissão de Valores Mobiliários. Até mesmo as do setor de construção, que há muito já se diz que está saturado. Outubro já acumula 13 pedidos de registro de companhia aberta, incluindo a BM&F, que tende a repetir o sucesso da Bovespa. A lista inclui Norse Energy, T4F, Infinity Bio-Energy, Alupar, Lindencorp, Tivit, Meolo, Biocapital, Direcional Engenharia, LLX Logística, MPX Mineração e Energia e PST Eletrônica.