Título: Google ganha peso no Brasil com serviço de mapas
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2007, Empresas, p. B4

Anna Carolina Negri / Valor Hohagen, presidente do Google no Brasil: serviços para entrar em companhias que não fazem anúncios on-line Quem começa a trabalhar no Google rapidamente aprende o significado do "Google Fifteen". Embora pareça sugerir um projeto secreto ou código de conduta, o nome representa algo bem mais simples. Nos escritórios da empresa, doces e sanduíches costumam ficar à disposição dos funcionários o tempo todo, o que tornou comum a crença de que ganhar umas 15 libras - o equivalente a quase sete quilos - é absolutamente normal para um novato.

Essa convicção também poderia ser facilmente aplicada à estratégia de competição da companhia americana. O Google tornou-se o maior peso-pesado da internet com seu serviço de busca, mas está sempre procurando maneiras de dar um peso maior aos negócios, sob a estratégia de acrescentar serviços novos, mas baseados na fonte de receita original: a publicidade on-line.

Hoje, a empresa lança a versão brasileira de um dos serviços que tem despertado mais atenção no exterior - o Google Maps, de mapas digitais. "Trata-se de um dos lançamentos mais importantes já feitos para a operação local", diz Alexandre Hohagen, presidente do Google no Brasil. "Não é só mapa. É um conjunto de serviços que vai nos ajudar a entrar em várias companhias que não fazem anúncios on-line."

Pelas contas do Google, existem 4 milhões de negócios no país - a maioria pequenas ou microempresas - que têm telefone, mas não contam necessariamente com um site de internet. Para muitas, a web não chama atenção pelo simples fato de ser ampla demais. Por que a cabeleireira do bairro anunciaria na internet, praticamente sem limites geográficos, se só lhe interessa atender a freguesia da vizinhança?

Com o Google Maps, a companhia espera remover esse empecilho ao casar a busca - de inspiração global - com um serviço local por excelência: a procura de um ponto numa região geográfica limitada.

O esforço para adaptar o serviço consumiu doze meses e rendeu muito trabalho ao centro de desenvolvimento da empresa em Belo Horizonte - a ex-Akwan, adquirida pelo Google em 2005 - incluindo a tarefa de confirmar, por telefones, milhares de pontos comerciais disponíveis nos mapas.

Com o Google Maps, os usuários podem encontrar endereços, traçar rotas e compartilhar seus próprios trajetos com outras pessoas. Um "personal trainer", por exemplo, pode mostrar aos alunos quais os percursos sugeridos para uma corrida, incluindo fotos e vídeos. Se preferir, o mapa pode ficar disponível no próprio site do treinador.

O serviço entra no ar com uma base de dados da TeleListas - a mesma parceira da Microsoft -, além de conteúdo de outras empresas, como WebMotors, Hoteis.com e Guia da Semana. Isso permite, por exemplo, que a localização de vários restaurantes venha acompanhada de críticas gastronômicas. O fato de o produto estar em português também ajuda. O Google não divulga o volume de investimento, nem as projeções de ganho com o serviço, mas uma comparação com o YouTube, seu site de vídeos, dá uma idéia do impacto provável na audiência: depois de ganhar uma versão local, o Brasil saiu do 9º para o 5º lugar em número de acessos do YouTube.

O motor financeiro do Google Maps, porém, ainda vai demorar mais um pouco para ser lançado no país. São duas estratégias que caminham juntas e que a empresa espera efetivar no país até o fim do ano.

A primeira visa permitir que os próprios usuários coloquem seus pontos de interesse no mapa. Para fazer isso, bastará digitar um endereço e entrar com os dados no sistema. O Google se encarregará de entrar em contato com o usuário para confirmar as informações e evitar erros. Dessa forma, acreditam os executivos da empresa, pode ser que o dono de uma pequena borracharia se anime em ingressar no ciberespaço. Afinal, entrar no mapa não vai requerer ajuda profissional e, o que é mais importante, não custará nada.

Uma vez na web, talvez o borracheiro em questão decida comprar um pequeno anúncio como os que aparecerão ao lado do mapa, para aumentar suas chances na preferência do consumidor. É assim que o Google planeja ganhar dinheiro: com os links patrocinados - textos que remetem ao site do anunciante.

Os links custam alguns centavos e funcionam no sistema de leilão: quem paga mais aparece primeiro. A despeito do baixo valor unitário, foi esse tipo de publicidade que fez do Google uma das companhias mais valorizadas do mundo, com receita de US$ 4,23 bilhões no terceiro trimestre, encerrado em setembro.

Todo esse dinheiro começou a fluir dos links colocados nas páginas de busca, o que explica o interesse de estender o modelo aos demais serviços. No Brasil, o Google começou a oferecer aulas de ioga e dança de salão para evitar que os funcionários ganhem sobrepeso. Nos negócios, porém, prevalece a diretriz do quanto mais gordo, melhor.