Título: Toyota defende modelo híbrido e questiona etanol
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2007, Empresas, p. B8

O etanol pode servir bem como opção de combustível no Brasil, onde a oferta é vasta. Mas não em países com limitação do fornecimento, segundo indicam declarações dos executivos da Toyota. A montadora não parece disposta a estimular o governo japonês a importar o produto. O maior fabricante de veículos do Japão, segundo no mundo atrás apenas da americana General Motors (GM), prefere concentrar seus esforços nos carros híbridos, tecnologia que já adota há 10 anos.

"Nós pensamos no uso do etanol, mas, para isso, teríamos que trazer todo o produto do Brasil. A energia que estaríamos economizando aqui no Japão seria, por outro lado, gasta ao ter que trazer o produto de fora", sustenta o responsável pelas vendas de veículos da marca Toyota da divisão Américas, Sunichi Nakanishi.

Durante uma apresentação sobre energia a um grupo de jornalistas de vários países, na segunda-feira, o responsável geral pela área de projetos da companhia, Ryuji Yamaguchi, explicou que a Toyota quer experimentar todo o tipo de energia alternativa.

"Mas alguns tipos de combustíveis, como os biocombustíveis, são difíceis de usar porque há limitações de fornecimento", disse o executivo. "Somente mercados com estrutura de fornecimento, como o Brasil, podem usar o etanol", acrescentou.

Mais tarde, no mesmo dia, Yamaguchi informou ao Valor que para o Japão a Toyota concorda com a mistura de álcool em até 10% na gasolina. "Também estamos considerando uma situação em que o fornecimento seja expandido. Pensamos em desenvolver o carro certo para cada mercado e, portanto, nossa posição não significa que vamos parar de investir no desenvolvimento dos modelos movidos a etanol", disse o executivo.

Durante sua apresentação, Yamaguchi saiu em defesa dos modelos híbridos, uma bandeira que parece direcionar o pensamento de todos os executivos da companhia no Japão. "A tecnologia híbrida é a tecnologia do futuro."

Numa ação que antecedeu o movimento de outras montadoras, a Toyota já testa a venda de carros híbridos nos mercados do Japão e Estados Unidos há 10 anos. E com relativo sucesso.

Essa é a idade do modelo Prius, um carro de tamanho médio, produzido na fábrica de Tsutsumi, instalada na área da cidade chamada também de Toyota, na região industrial próxima a Nagoya, no centro do Japão. Nessa fábrica, uma das mais produtivas da companhia, de onde sai um carro a cada minuto, 70% da produção do Prius é exportada. Outros cinco modelos são produzidos nessa unidade.

Divulgar o desenvolvimento dos híbridos se transformou quase numa obsessão dentro da montadora japonesa. Atualmente, a empresa já tem oito modelos híbridos em sua linha. Mas as vendas se concentram nos mercados americano e japonês, onde o poder aquisitivo é mais alto. A tecnologia ainda é cara, mas Yamaguchi diz que, com o aumento da escala, poderá se tornar mais acessível.

O híbrido tem um sistema inteligente que alterna o uso de baterias e gasolina. Numa velocidade mais baixa, as baterias entram em ação. Quando o veículo demanda mais potência do motor para aumentar a velocidade, a gasolina é usada. Esse movimento serve, inclusive, para recarregar as baterias.

Hoje, no híbrido disponível no mercado, o funcionamento elétrico só pode ser alternado com gasolina. Mas Yamaguchi diz que no futuro a tecnologia poderia receber a parceria do acionamento elétrico com outros tipos de combustível e energia.

Desde o lançamento do Prius, em 1997, a Toyota já vendeu um milhão de carros híbridos. Os planos daqui para a frente são ambiciosos. Já no ano passado, dos 7,92 milhões de carros da marca vendidos em todo o mundo - 1,69 milhão no Japão - , 313 mil foram modelos híbridos. A meta para este ano é chegar a 430 mil, segundo o porta-voz Hideki Fujii. A empresa definiu como meta chegar em 2010 com a produção anual de 1 milhão de unidades de híbridos.

A repórter viajou a convite da Toyota