Título: Lula afaga Congresso em posse de Múcio
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2007, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem a cerimônia de posse do novo ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, para afagar o Congresso. Mesmo sem citar, em nenhum momento, a CPMF, Lula afirmou que o parlamento brasileiro é um dos mais "compreensivos do mundo. Nunca tivemos divergências insuperáveis em nenhum projeto encaminhado por nós ao Congresso", declarou Lula.

Para o presidente, divergências são comuns em uma Casa com 513 deputados e 81 senadores. Mas destacou que, nesses momentos, o fundamental é ter "a conversa certa, no momento certo, com a pessoa certa". Lula também aproveitou o evento para um desagravo ao ex-ministro, Walfrido dos Mares Guia. Disse que Walfrido "se sentiu magoado" por ter sido indiciado (na verdade, ele foi denunciado) em um processo que corre na Justiça há nove anos e no qual jamais foi ouvido. "Espero que ele consiga o seu intento, de ser julgado o mais breve possível e seja provada sua inocência", afirmou o presidente.

Para Múcio, Lula avisou que está diante de uma batalha complicada. Lembrou que cinco ministros antecederam o petebista na Pasta - José Dirceu, Aldo Rebelo, Jaques Wagner, Tarso Genro e Walfrido. Brincou que todos os ministros podem alegar que a agenda está lotada, menos o coordenador político. E que ele deve continuar, na Pasta, a exercer o que tem feito de melhor desde que foi eleito deputado: "conversar política e gostar de resolver um bom problema".

O governo vai adotar discursos específicos para arrebanhar votos favoráveis à CPMF, diante de um calendário exíguo. Aos governadores, mostrará o volume de repasses e o que eles ganham ou perdem com a aprovação ou não da CPMF. Para a base, especialmente os senadores, que ensaiam rebeliões diárias contra o Executivo, será pedido um voto de confiança e a promessa de que os compromissos - cargos e liberação de emendas parlamentares - serão cumpridos.

Apesar de ser um dos pontos nevrálgicos da negociação, ministros palacianos asseguram que a sucessão no Ministério de Minas e Energia não entrou na pauta . Para a oposição, o governo quer mostrar que, após a votação da CPMF, independente do resultado, ainda restarão três anos e meio de governo Lula. Portanto, a CPMF nada altera.

Durante reunião da coordenação política, a primeira com o novo ministro , Lula pediu empenho. Ouviu de cada ministro quais são as dificuldades que ainda existem, onde estão as pontes que precisam ser reconstruídas e alertou para a importância que questões locais sejam deixadas de lado.

Para não dificultar ainda mais um caminho que já não é fácil, o governo praticamente decidiu que não encaminhará a reforma tributária para o Congresso enquanto a CPMF não for aprovada. O recuo acontece uma semana depois de Lula assegurar que a reforma seria enviada ao Congresso até o dia 30.

Lula também reforçou aos ministros o que já havia dito aos presidentes e líderes da base aliada - vai se empenhar pessoalmente, conversando com senadores e governadores - para aprovar a CPMF. Por enquanto, apesar de todas as dificuldades, ninguém ousa insinuar a hipótese de que a CPMF não será aprovada ainda esse ano. Na noite de domingo, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), repetiu que a emenda constitucional deve ser votada, em primeiro turno, entre os dias 12 e 15 de dezembro.

O esforço do governo agora é tentar despartidarizar a CPMF, mostrando que ela é imprescindível para o país. José Múcio Monteiro foi convidado para um jantar hoje com a bancada do PTB no Senado para tentar aparar arestas. Apesar de seguir comemorando a decisão do presidente da legenda, Roberto Jefferson (PTB-RJ) de não obrigar a bancada a fechar questão contra a CPMF, Múcio sabe que cada voto é precioso nesse cenário. No Planalto, a avaliação chega a ser cirúrgica: nas próximas duas e decisivas semanas, qualquer passo tem que ser muito bem estudado, para não haver necessidade de recuos posteriores, como no caso da reforma tributária.

Outra estratégia é tentar evitar animosidades ainda maiores nessa reta final. A senha é avisar que "adversário não é inimigo". Por isso, todos devem conversar com aqueles que estiverem abertos ao diálogo. Sobre a oposição, que tem cálculos mostrando que o Executivo pode prescindir dos R$ 40 bilhões arrecadados com a CPMF, ministros do palácio respondem que eles próprios não encontraram outras fontes: "Se fosse fácil arrumar outras fontes para a CPMF, a oposição, que criou a contribuição, já teria achado essas fontes no passado", acrescentou um ministro palaciano.