Título: Fator Chávez favorece demandas militares
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2007, Política, p. A9

A corrida armamentista promovida pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, criou, de forma indireta, ambiente para que o governo federal acelere os planos de reaparelhamento das Forças Armadas. Segundo avaliação existente no Exército, a ação de Chávez reintroduziu a questão externa no noticiário, fazendo com que as reivindicações por mais recursos militares sejam vistas de modo mais favorável na mídia e no governo.

Desde a nomeação de Nelson Jobim para o Ministério da Defesa, as Forças Armadas tiveram mais sucesso em recuperar fatias do Orçamento para investimento. Ontem, o ministro anunciou que o reaparelhamento começará depois da apresentação do plano nacional de defesa, a ser divulgado em setembro do próximo ano. O ministro da Defesa está negociando com a área econômica do governo um reajuste para os militares. Chegou a dizer no fim do mês passado que o percentual poderia chegar a 37%, em duas etapas.

Há entusiasmo no Exército com os planos já anunciados por Jobim de se reconstituir a indústria bélica do país, comprometida desde a quebra da Engesa no final dos anos 80, além de obter uma recuperação salarial. Caso a recuperação da indústria bélica aconteça, o Comando Militar do Sudeste - único do Exército que atua em apenas um Estado, São Paulo - deverá ter seu papel estratégico reforçado, já que São Paulo concentra 70% das compras do Exército, desde material básico, como rações e vestuário, até equipamentos de ponta. A Federação local das indústrias (Fiesp) é a única do país a manter de forma permanente um comitê para assuntos de Defesa, que mantém contato estreito com os comandos militares.

A questão foi tratada ontem em um almoço do comandante militar do Sudeste, general Antonio Esper, com empresários integrantes da Câmara de Comércio Brasil-Líbano. Na exposição, o general demonstrou cautela ao comentar a atuação do Comando Militar do Sudeste na questão da segurança pública. Desde 2006, o Comando integrou seus órgãos de inteligência com os da Secretaria de Segurança Pública, para o combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC), algo que somente agora o governo federal tentará implementar, segundo informou o chefe da Agência Brasileira da Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, em entrevista ao Valor há duas semanas.

Está no Comando Militar do Sudeste, a 11ª Brigada de Infantaria Leve de Campinas, uma unidade de elite voltada exclusivamente para a ação interna. Mas o general afirmou que esta unidade, de emprego estratégico, depende de outras unidades de ação rápida para poder atuar em curto prazo. O general Esper comentou aos empresários que a brigada de Campinas está preparando uma doutrina do emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem.

O fundamento central é a ação do Exército em casos pontuais, jamais de forma isolada. Nas palavras do general, "o Exército não pode e não deve atuar sozinho, porque precisa do apoio das forças vivas da sociedade para ser respeitado por elas", afirmou, referindo-se nominalmente à imprensa, as instituições responsáveis pela segurança pública e o judiciário. Segundo o general, "o Exército não constitui uma sociedade à parte da sociedade civil, mas a integra".