Título: Para Agnelli, da Vale, fusão é uma festa australiana
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2007, Empresas, p. B8

Roger Agnelli, presidente da Vale do Rio Doce, afirmou ontem, em Paris, que não há intenção em adquirir a Rio Tinto. Apesar de haver a necessidade da formação de sinergias caso a BHP Billiton tenha sucesso no plano de fusão com a rival, faria pouco sentido para a Vale realizar qualquer contraproposta. "Obviamente nós não queremos nos envolver nisso porque há uma sobreposição do que nós fazemos e do que eles fazem", disse.

O presidente da Vale reforçou que a compra da Rio Tinto faz muito sentido para a BHP, que faria uma composição de ativos de mineração na Austrália. "Trata-se de uma festa australiana e para a qual não fomos convidados. E eu não costumo entrar de penetra na festa dos outros", comentou Agnelli.

"Isso [a oferta da BHP] não mudará nossa visão de longo prazo e nossa disciplina de alocação de capital", afirmou o executivo, que afastou a hipótese da Vale ser vítima de uma tentativa de aquisição.

A gigante da mineração mundial, informou ainda que as negociações globais de preço do minério de ferro vão começar nos próximos dias, mas que um acordo pode demorar. O diretor-executivo de finanças, Fabio Barbosa, disse que é muito cedo para comentar sobre o percentual do ajuste de preços e que a Vale espera que eles reflitam condições de mercado.

Os preços subiram quase 200% desde 2002 e analistas esperam que eles avancem de 25% a 50% no próximo ano. "As discussões devem demorar por causa dos parâmetros que serão discutidos de uma maneira diferente", disse Barbosa à Reuters. Ele explicou que os parâmetros se referem à nova realidade de um mercado mais aquecido do que o esperado no início deste ano, que decorreu em aumento de 9,5% para o minério de ferro em 2007.

A Vale afirmou que mesmo que invista pesado na produção não conseguirá atender à demanda explosiva da China por minério de ferro, um dos principais motivos para a pressão sobre os preços. "Se continuássemos investindo mais e mais nunca conseguiríamos acompanhar o crescimento chinês", disse o presidente da Vale, durante entrevista em Paris. Conforme estimativa da empresa, a fatia chinesa do consumo mundial de minério de ferro subirá de 45%, em 2006, para 54% em 2011. Ele informou que o consumo de níquel deve subir de 17,3% para 31%; o de alumínio, de 25,5% para 41%; e o de cobre de 21% para 30%.

A Vale anunciou que pretende investir mais de US$ 59 bilhões entre 2008 e 2012 para mais do que dobrar a produção de cobre, expandir a produção de minério de ferro e níquel e desenvolver a fabricação de alumínio.

Na mesma linha de avaliação, a australiana Rio Tinto, segunda maior exportadora mundial de minério de ferro, disse que a demanda pela matéria-prima do aço levará a um aumento "significativo" nos contratos de fornecimento de 2008. "O mercado está mais apertado do que nunca e deve-se prever um aumento substancial dos preços", disse Sam Walsh, principal executivo dessa divisão na Rio Tinto, em apresentação feita ontem aos investidores em Londres, onde fica sua sede. A Rio Tinto vendeu excedente do produto no mercado à vista a US$ 190 a tonelada, quase o dobro do valor fixado pelo contrato anual atualmente em vigor, informou Walsh.

A proposta de aquisição e fusão feita pela rival BHP Billiton, maior mineradora mundial, pretende, em parte, captar a infra-estrutura e o potencial de expansão da Rio Tinto na região de Pilbara, no Estado da Austrália Ocidental, disse Walsh. "Acho que eles estão brincando de pega-pega", disse.

Segundo informou a assessoria da Vale, Agnelli voltou a informar, como na semana passada, em Brasília, que está trabalhando para atrair um novo projeto de aço no país. O executivo informou ao presidente Lula, durante anúncio de criação de uma usina no Ceará com a Dongkuk, que está negociando com um grupo estrangeiro uma siderúrgica de US$ 4 bilhões para fazer 5 milhões de toneladas. O local deve ficar entre Rio, espírito Santo e Maranhão. O projeto será nos mesmos moldes das usinas de ThyssenKrupp, no Rio, e da Baosteel, no Espírito Santo. (Colaborou Ivo Riberio, de São Paulo)