Título: Após fraude, Agricultura decide ampliar inspeção sobre o leite nacional
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2007, Agronegócios, p. B15

O Ministério da Agricultura deve modificar o modelo de monitoramento da produção de leite e ampliar a inspeção sobre os 18 bilhões de litros sob responsabilidade federal. A desarticulação pela Polícia Federal de um esquema de fraude praticada por duas cooperativas de Minas Gerais deve acelerar as mudanças.

"No futuro, teremos mais auditoria e menos fiscalização. O que importa é ter mais inspeção", diz o secretário de Defesa Agropecuária do ministério, Inácio Kroetz. Neste ano, a produção deve crescer 6% e superar um total de 26 bilhões de litros.

Uma das medidas deve ser a substituição da fiscalização das indústrias em tempo integral por fiscais agropecuários lotados nas dependências das empresas. O novo modelo, apoiado pelo setor privado, contempla a adoção de novas metodologias de análise e auditoria periódica dos processos industriais.

"Temos 180 indústrias onde o fiscal trabalha em período integral. Nas demais, é feito por periodicidade. Vamos atribuir mais responsabilidade ao fabricante com a auditoria do processo e o aumento do auto-controle nas indústrias", afirma Kroetz. Para combater a disseminação de fraudes econômicas e contra a saúde pública estão medidas como a capacitação de novos laboratórios, o treinamento de pessoal e a adoção de processos de análise mais modernos.

Pressionado pelo setor privado, o governo quer desvincular as cooperativas do esquema de fraude descoberto pela PF nas duas sociedades mineiras. "Não é todo leite que está sob suspeita. Tem indícios. E não quer dizer que são as cooperativas as fraudadoras", diz Inácio Kroetz. "Temos vários processos em andamento e não há um foco específico nas cooperativas". Há 1,3 mil estabelecimentos sob inspeção federal. As 350 cooperativas respondem por apenas 40% da captação do leite.

Em reunião, ontem, com o secretário, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) cobrou a ampliação das investigação às demais indústrias e laticínios. "Cooperativa que fez coisa errada tem que pagar o preço. Agora, não podemos restringir às cooperativas. Será que nenhuma indústria tem fraude? Nós sabemos que tem. Então, que se faça em todo o setor", afirma o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas. As cooperativas, diz ele, pedem "há pelo menos três anos" a fiscalização do setor. "Isso está acabando com as cooperativas porque tem indústria que opera com margens milagrosas".

No mesmo tom, a Confederação Brasileira de Cooperativas de Laticínios (CBCL) também cobra a ampliação. "Tem que aproveitar o momento para moralizar o setor. É uma tremenda injustiça restringir às cooperativas. Tem que fiscalizar todo mundo e acabar com impunidade", defende o diretor Vicente Nogueira. (MZ)