Título: Juro interbancário acelera e provoca novo aperto para bancos europeus
Autor: Mollenkamp , Carrick ; Whitehouse , Mark
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2007, Finanças, p. C2

Os bancos europeus enfrentam uma nova onda de problemas para conseguir financiamento, à medida que os mercados onde captam recursos se deterioram.

Os juros do mercado de empréstimos de curto prazo subiram a um ritmo que não se via desde agosto, em decorrência do fato de os investidores estarem evitando riscos e os bancos terem ficado cada vez mais reticentes em emprestar uns aos outros. A crise se espalhou para áreas que ainda não tinham sido fortemente afetadas - como o mercado de obrigações hipotecárias, que movimenta 2 trilhões de euros (US$ 3 trilhões) e antes era visto como um dos mais seguros.

Num esforço para diminuir a crise, os bancos centrais estão intervindo com injeções emergenciais de recursos.

"Há um verdadeiro medo de quebra dos bancos, algo que acho que não existia em agosto", diz Tim Bond, estrategista do Barclays Capital. "A variedade de opções de financiamento para o sistema bancário é ou pequena ou cara demais."

Os analistas enxergam vários fatores por trás da última convulsão no mercado de crédito. Uma delas é que os bancos estão guardando recursos para se proteger contra potenciais perdas em títulos garantidos por hipotecas do mercado americano "subprime", ou de alto risco, das quais muitas ainda estão em fundos de investimento fora do balanço - conhecidos como "conduits" ou veículos de investimento estruturados - pelos quais os bancos podem ser forçados a assumir a responsabilidade.

A ansiedade relacionada às perdas em investimentos de alto risco também atingiu fundos de curto prazo conhecidos como fundos de money market, que têm sido fonte importante de financiamento para os SIVs e os conduits. Devido ao temor de que possam enfrentar retiradas maciças de seus próprios investidores, os fundos também estão se afastando de dívidas emitidas tanto pelos bancos quanto por seus veículos de investimento.

"Liquidez, caixa especificamente, é o que manda agora", escreveram analistas da Lehman Brothers Holdings Inc. num relatório recente. "Se você não tem e precisa de acesso aos mercados de capitais, provavelmente terá de pagar caro no ambiente atual."

Como em agosto, a taxa de juros de curto prazo que os bancos usam para emprestar dinheiro uns aos outros - a Libor, ou taxa do interbancário de Londres - subiu fortemente. A taxa para empréstimos em dólares de três meses estava em 5,04% na sexta-feira, ante 4,87% em 13 de novembro. A taxa para euros estava em 4,6975% na sexta, um ganho de mais de 0,1 ponto porcentual em relação a uma semana antes - a maior alta desde agosto.

Se continuar, a alta dos juros pode corroer ainda mais o crescimento econômico da zona do euro, que já luta com as conseqüência de uma moeda cada vez mais forte.

Os problemas crescentes no mercado de crédito levaram o Banco Central Europeu a divulgar um comunicado na sexta-feira em que afirma que, se necessário, vai injetar recursos extras no mercado até a virada do ano. Hoje, espera-se que o BCE forneça mais do que a quantidade usual de empréstimos de curto prazo para bancos da zona do euro em sua operação semanal de refinanciamento, depois de uma operação na quinta-feira que forneceu mais 60 bilhões de euros em empréstimos de três meses. O BCE usa o acréscimo ou decréscimo de fundos para manter próximos de sua meta de 4% os juros que os bancos cobram uns dos outros para empréstimos de curto prazo.

Os investidores esperam que o BCE mantenha sua taxa básica de juros estável em 4% até 2008 por causa da alta da inflação, apesar de haver uma desaceleração do crescimento. Uma minoria crescente entre os economistas suspeita que a turbulência no mercado, o euro valorizado e o desaquecimento da economia americana levarão o BCE a cortar os juros em 0,25 ponto porcentual, talvez já em março.

Num indício incomum de tensão, os bancos estão oferecendo pagar bem mais do que os juros cotados publicamente para empréstimos de curto prazo. No mercado de promissórias, ou commercial papers, em euros, no qual bancos e empresas emitem papéis para investidores como fundos de renda fixa, alguns bancos estão dispostos a pagar até 0,2 ponto porcentual acima da Libor, segundo uma pessoa a par do mercado. Mesmo assim, o mercado encolheu US$ 41 bilhões nas primeiras três semanas de novembro, enquanto os investidores fugiam da turbulência, segundo o site especializado Capital Market Daily.

Recentemente, a tensão entre os investidores se espalhou para o mercado de obrigações hipotecárias, ou covered bonds, a última opção para muitos bancos europeus que precisam do mercado de capitais. Há muito tempo esse mercado tem sido fonte importante de financiamento para bancos estatais e financeiras de crédito imobiliário em toda a Europa, como o combalido banco britânico Northern Rock. O mercado emergiu relativamente incólume da turbulência no segmento de crédito no meio do ano porque era visto como extremamente seguro: as obrigações hipotecárias devem cumprir exigências rígidas para assegurar a qualidade dos empréstimos que as garantem e devem contar com outras garantias dos emissores.

A demanda esfriou na semana passada, quando a firma de classificação de risco Moody's Investors Service informou que planejava revisar a avaliação das obrigações hipotecárias emitidas pelo Northern Rock - algo raro num mercado mais que centenário.

A falta de interesse dos investidores forçou alguns bancos - como o AIB Mortage Bank, do Allied Irish Banks, e o Abbey National, filial britânica do Santander , da Espanha - a adiar planos de emitir títulos. (Colaboraram Joellen Perry e Paul Hannon)