Título: Bancos param queda dos juros antes do BC
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2007, Finanças, p. C1

Dados divulgados ontem pelo Banco Central mostram que terminou a contribuição do relaxamento monetário na redução dos juros bancários. Para o BC, entretanto, isso não impedirá que as taxas dos empréstimos sigam em queda. O mercado de crédito continuaria a ser favorecido pela queda da inadimplência, por ganhos de escala e por mudanças estruturais, como o avanço do crédito consignado.

Nos últimos dois anos, os cortes nos juros básicos foram o principal fator por trás da redução dos juros bancários. O BC diminuiu os juros básicos em 8,5 pontos percentuais (pp), de 19,7% para 11,25% ao ano, entre setembro de 2005 e de 2007. No mesmo período, os juros bancários caíram 12,6 pp, de 48,1%% para 35,5% ao ano.

Em agosto, o mercado financeiro já começou a contar com uma política monetária mais cautelosa, devido ao agravamento da crise das hipotecas americanas e aos sinais de aceleração da inflação. O mercado de crédito sentiu o impacto. Os juros bancários médios caíram apenas 0,2 pp em agosto e setembro, desacelerando-se em relação à redução média de 0,55 pp ocorrida de janeiro a julho. Em outubro, os dados parciais até o dia 11 apontavam alta de 0,2 pp.

As perspectivas são de novas elevações nos juros bancários daqui para diante, ainda que discretas, depois que o BC deu uma pausa no afrouxamento na política monetária. A taxa básica afeta os juros bancários de forma indireta. Quando o BC sinaliza com uma política monetária mais conservadora, os juros futuros sobem. E os juros futuros afetam os custos de captação dos bancos, puxando os juros do crédito.

Os juros futuros já têm refletindo esse ambiente de maior incerteza. Os "swaps" de 360 dias subiram nos últimos três meses. De julho para agosto, passaram de uma média de 10,8% para 11,3% ao ano, mantendo-se nesse patamar em setembro. Em outubro, os "swaps" chegaram a recuar para uma mínima de 11,17%. Mas voltaram a subir, atingindo um pico de 11,43%, depois que o BC suspendeu as quedas dos juros e o mercado internacional voltou a registrar turbulências. Ontem, recuou um pouco, para 11,34%.

Esse movimento nos juros futuros elevou a remuneração paga pelos bancos nos depósitos. O custo de captação médio passou de 10,8% para 11% entre julho e agosto, mantendo-se estável nesse patamar em setembro e nos primeiros dias de outubro. A discreta elevação nos custos de captação, porém, não foi repassada aos clientes dos bancos. O ajuste foi feito nos "spreads" bancários, que passaram de 35,9 pp. para 35,5 pp entre agosto e outubro.

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, avalia que os juros bancários continuarão a cair, puxados pela redução dos "spreads". "Os bancos terão margem para cortar os juros, na medida em que as taxas de inadimplência se mantêm estáveis e os volumes de empréstimos continuam a crescer, gerando ganhos de escala", afirma.

Lopes lembra que, nos últimos anos, o mercado de crédito explorou novas fronteiras, concedendo empréstimos a quem não tinha acesso. As instituições financeiras, afirma, desenvolveram tecnologias para avaliar o risco desses clientes. A taxa de inadimplência foi de 4,6% em setembro, não muito diferente dos 4,1% observados dois anos antes.

Ele também lembra que a expansão de crédito ocorre mais fortemente em linhas que têm "spread" menor. O crédito para a compra de veículos, por exemplo, cresce a uma taxa anual de 24%, enquanto o cheque especial cresce 9,4%. O "spread" das linhas de aquisição de veículos é de 17,1 pp, bem menor do que os 130 pp do cheque especial.

Darwin Dib, economista do Unibanco, lembra que o ciclo de distensão monetária não terminou. "O BC anunciou que faria uma pausa nos cortes de juros", afirma. "É provável que retome os cortes no ano que vem."