Título: Gestão em movimento
Autor: Fariello , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2007, EU & Investimento, p. D1

A Ashmore, uma gestora de recursos inglesa com o peso de US$ 33,1 bilhões (quase R$ 60 bilhões), acaba de aportar no Brasil e, assim, incrementa a disputa crescente pelo mercado de administração de recursos local, de R$ 1,11 trilhão - segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). Nos últimos meses, o mercado de gestão esteve movimentado principalmente pela iniciativa de empresas estrangeiras. O Credit Suisse adquiriu os negócios da Hedging-Griffo, o UBS aliou-se ao Pactual e, no começo do mês, a BNY Mellon incorporou a brasileira Arx Capital, que administrava R$ 4,55 bilhões.

Para os próximos meses, espera-se mais anúncios similares, além da já definida união das asset management do ABN Amro Real e do Santander - conseqüência da fusão mundial -, que resultará em uma gestora de quase R$ 100 bilhões no país. Algo semelhante ocorreu com a união das gestoras de recursos de BankBoston e Itaú recentemente.

A Ashmore é uma das maiores gestoras de investimentos especializada em países emergentes no mundo. Na sexta-feira, a empresa publicou ata de assembléia no Diário Oficial Empresarial que institui o escritório de gestão de recursos no Brasil. À frente dos negócios da empresa britânica por aqui estará Eduardo Câmara Lopes, executivo que era do Itaú BBA. A empresa também pediu, no começo do mês, registro para atuar como administradora de recursos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o setor. Procurada na sede, em Londres, a Ashmore não se pronunciou sobre a subsidiária em São Paulo.

Para José Hugo Laloni, sócio da consultoria LLA Investimentos, a maior competição entre gestores brasileiros só traz benefícios para o mercado. "Serão mais opções e provavelmente teremos produtos com mais qualidade para investir", diz ele, lembrando que, por conta de restrições de tamanho do mercado e dos gestores brasileiros, muitos fundos bons estão fechados para novos aportes atualmente. "É uma tendência de consolidação que comprova a maturidade do mercado de fundos brasileiro", completa.

O que ocorre hoje no mercado de gestão de recursos replica um movimento anterior do mercado financeiro, notadamente os bancos. Nos últimos anos, fusões e aquisições foram freqüentes entre instituições financeiras brasileiras. "É uma segunda etapa de consolidação e ingresso de estrangeiros, que deve ser positiva para os investidores", diz Alexandre Espírito Santo, sócio da Plenus Gestão de Recursos e chefe do departamento de Economia e Finanças da ESPM-RJ. Para ele, a tendência é positiva porque só devem ingressar no mercado ou envolver-se em fusões e aquisições gestoras de recursos mais modernas e com boa qualidade. "Os administradores terão mais controles de riscos, estratégias novas e outros diferenciais positivos para gerir o dinheiro de terceiros."

Segundo Espírito Santo, é natural que as gestoras estrangeiras entrem no mercado brasileiro adquirindo companhias locais. No entanto, espera-se que elas, inicialmente, modifiquem o menos possível as estratégias para conservar os aplicadores cativos. Com a Arx, por exemplo, apesar da incorporação pela BNY Mellon, quem assumiu a gestora foi José Alberto Tovar Barreto de Melo, antigo sócio da Arx.

O gestor estrangeiro que chega e adquire uma empresa local, em geral, não muda a estratégia corrente, mas está interessado em atuar com novas opções de maior risco, diz Laloni. Os administradores locais, em geral, estão menos habituados a correr tanto risco. "Para os aplicadores, é ótimo, porque passam a ter uma opção mais arriscada, sob o selo de uma grande entidade, local ou estrangeira."

Fusões ou aquisições no setor de fundos não quer dizer que o investidor terá suas opções limitadas, considera o superintendente de investimentos do Banco Real, Eduardo Jurcevic. "Poderá haver uma redução de 40 para 30 administradores, mas não dá para dizer que esse será um mercado já consolidado". Há ainda muita coisa para acontecer porque o perfil do investidor está mudando, acrescenta. "Não acredito que restarão apenas um ou dois distribuidores e vejo os bancos, cada vez mais, apostando em inovação."

Para Marcelo D'Agosto, sócio da consultoria Fortuna, os grandes gestores estrangeiros estão mais interessados em oferecer os ativos locais para investidores estrangeiros do que, efetivamente, captar recursos por aqui. Alguns desses que estão aportando por aqui podem vir, entretanto, a receber recursos locais, avalia. "Isso é bom porque cria mais alternativas para o aplicador."

Segundo D'Agosto, o desenvolvimento do mercado de gestão de recursos nacional combina com a tendência da "arquitetura aberta" do mercado, em que os investidores podem aplicar em diversas instituições por meio de uma boutique de investimentos ou mesmo do próprio banco onde mantêm conta corrente. "Entre os grandes aplicadores, principalmente do private, isso já acontece, mas há uma tendência de isso chegar até o investidor de varejo", diz ele.

Não é de hoje que o mercado de fundos brasileiro mostra-se concentrado na mão de gestores ligados a grandes bancos de varejo. "Esse fato sempre conteve a concorrência na área de gestão de fundos no Brasil", avalia D'Agosto. No entanto, a expansão atual do mercado abre espaço para novos gestores colocarem na mesa as suas estratégias.

Espírito Santo comenta que, no mercado de fundos, sempre foi muito importante o histórico dos gestores e a confiança dos aplicadores nos responsáveis. Por conta disso, ele acredita que é pequeno o espaço para aventuras por parte de novos participantes. Podemos ter fundos mais agressivos, mas é muito difícil vermos quem não respeite as regras dos mandatos das carteiras, diz. "Após a crise de marcação a mercado, em 2002, o setor de fundos ficou mais maduro e reduziu-se o espaço para aventureiros." (Colaborou Adriana Cotias)