Título: Para BC, a pausa no corte de juros não interrompe expansão do crédito
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2007, Finanças, p. C2

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, avalia que a pausa nos cortes na taxa básica de juros não deverá interromper o ciclo de expansão do crédito. "Poderá haver uma discreta desaceleração, mas a tendência de forte crescimento deverá ser mantida", afirma. Para Lopes, o aumento dos prazos dos empréstimos continuará a impulsionar o mercado. Neste ano, o prazo médio das operações cresceu 14,5%, chegando a 339 dias em setembro. "Com prazos mais longos, as prestações ficam menores e passam a caber nos orçamentos domésticos", afirmou.

Darwin Dib, economista do Unibanco, diz que a expansão dos empréstimos seguirá adiante porque o seu principal motor não é o estímulo monetário, mas a decisão estratégica das instituições financeiras de ampliar suas carteiras de crédito. "Em 2004, os juros subiram, mas o crédito continuou a crescer", afirma Dib. "As instituições financeiras entenderam o aperto monetário como um evento temporário."

No seu relatório de inflação de setembro, o BC divulgou um estudo que mostra que ciclos anteriores de expansão de crédito acabaram quando o BC teve que fazer movimentos abruptos na taxa de juros, para conter pressões inflacionárias agudas ou combater crises internacionais. O BC parou de baixar os juros em outubro, mas o mercado espera uma retoma dos cortes em 2008.

O volume de crédito na economia cresceu 24,8% no período de 12 meses encerrado em setembro, chegando a R$ 854 bilhões, ou 33,1% do Produto Interno Bruto (PIB). O crescimento mais forte ocorre no chamado mercado livre - no qual não vigora tabelamento de juros -, com expansão de 28,7%. O crédito direcionado, que inclui empréstimos rurais e as linhas de financiamento do BNDES, avançou apenas 16,4% no período.

Lopes, do BC, lembra que o mercado de crédito passa por mudanças estruturais importantes - e que elas não se esgotaram. O crédito consignado é uma delas. Em um primeiro momento, as instituições financeiras investiram nas operações a servidores públicos e aposentados e pensionistas do INSS. Esse nicho ainda avança rápido, com expansão de 35,5%. Mas o segmento de crédito consignado para trabalhadores do setor privado começou a avançar com maior força - expansão anual de 42%.

"O crédito consignado para trabalhadores do setor privado soma apenas R$ 7,870 bilhões", afirma. "É muito pouco, e há espaço para crescer." As operações de "leasing" de veículos, que têm taxas de juros mais baixas, cresceram 106% nos 12 meses terminados em setembro. "Esse segmento vive um renascimento."

O crédito imobiliário avançou 25,2% nos 12 meses encerrados em setembro e, na avaliação de Lopes, também tem espaço para crescer ainda mais. Apesar da forte expansão recente, em setembro o crédito imobiliário equivalia a apenas 1,7% do PIB, bem abaixo dos 10,6% observados em abril de 1989. "O volume é baixo, comparado com outras economias semelhantes."

Lopes lembra que, além da taxa Selic, outros fatores macroeconômicos contribuem para o avanço dos volumes de crédito contratado. "Num ambiente de maior estabilidade macroeconômica, os bancos têm maior confiança para emprestar, e os clientes, maior disposição em tomar crédito", afirma ele. Emprego e renda real em alta também alavancam os empréstimos.