Título: Agenda de Lula com empresários terá África, investimentos e CPMF
Autor: Leo, Sergio ; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2007, Política, p. A10

Alan Marques / Folha Imagem Lula: na tentativa de esvaziar campanha da Fiesp contra contribuição e de convencê-los das oportunidades abertas em mercados emergentes, presidente encontra empresários O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reúne-se amanhã com pelo menos 100 grandes empresários brasileiros, para convencê-los de que o país vive um "vigoroso e sustentado" ciclo de investimentos e crescimento; e vai convocá-los para investir nos mercados emergentes da África e do Oriente Médio, onde, segundo o presidente, abriram-se enormes oportunidades para o Brasil. Grandes empresários convidados para o encontro acreditam, porém, que a agenda tem, oculto, um outro tema fundamental para o Palácio do Planalto: a aprovação da CPMF.

Previa-se o envio de até 150 convites para assegurar que eventuais ausências não comprometam a representatividade do encontro. Mas até ontem à noite apenas 70 haviam sido expedidos. Lula quer fazer, em breve, outras duas grandes reuniões: uma com as principais empresas de porte médio do país, e outra com os mais representativos entre os pequenos empresários brasileiros.

O objetivo dos encontros não é arregimentar apoio para aprovação da CPMF, nem discutir a realização do Plano de Aceleração do crescimento (PAC), embora esses dois temas possam surgir nas conversas, garante um auxiliar graduado do presidente Lula. Se o assunto for abordado, Lula deverá defender para os empresários a necessidade de aprovar a CPMF sem alterações ou partilha com estados ou municípios. Para os empresários, não significaria nenhum peso adicional, e o governo se compromete a fazer em 2008 a reforma tributária como reivindica o setor privado, argumentam auxiliares de Lula.

Empresários ouvidos pelo Valor acreditam, porém, que o governo quer, com a reunião, esvaziar a campanha da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) pela extinção da CPMF, mostrando apoio do setor privado à agenda do Palácio do Planalto. A reunião com Lula e a campanha do governo pela CPMF foram tema de discussão, na sexta-feira, em um almoço na sede da Fiesp, por um grupo de pelo menos 15 grandes empresários, entre eles convidados para o encontro de amanhã com Lula.

Alguns dos presentes, pelo menos um deles vinculado ao setor de infra-estrutura, mostraram preocupação com as ameaças do governo, de cortar investimentos previstos no PAC, caso seja extinta a CPMF. Ouviram uma longa exposição contra o imposto, pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Segundo um dos empresários presentes, Skaf argumentou que o fim da CPMF não afeta o PAC porque a maior parte dos gastos virá de estatais e do próprio setor privado, sem relação com o tributo.

Além disso, a Fiesp defende que há condições, para o governo, de compensar as receitas a serem perdidas com o fim da CPMF, sem necessidade de promover cortes significativos nas despesas orçamentárias. Segundo a argumentação apresentada na Fiesp aos empresários que se encontrarão com Lula, a reavaliação do crescimento econômico e da inflação previstas no orçamento, apenas, permite calcular que a receita em impostos aumentará pelo menos R$ 16 bilhões, em 2008, acima do contabilizado na Lei de Orçamento.

O cumprimento da determinação que limita os aumentos de gastos de pessoal a 1% do PIB poderia gerar outros R$ 6 bilhões em economia no orçamento. Se forem levados em conta as tendências de adiamento nos desembolsos das chamadas despesas discricionárias, haverá, ainda, uma sobra no atual orçamento, de R$ 10 bilhões aproximadamente, nos cálculos da Fiesp, que também prevê ganhos financeiros no setor público com a extinção da CPMF.

No encontro de amanhã, após o discurso de Lula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega deverá expor dados sobre a economia brasileira, para mostrar que o país está em condições de crescer continuamente, com aumento do mercado consumidor e da renda. Segundo a expressão hoje preferida no governo (emprestada do economista John Maynard Keynes), Lula quer "despertar o espírito animal" dos empresários, para incentivá-los a investir no aumento da produção.

O presidente Lula e seus auxiliares avaliam que há, ainda, desinformação no setor privado sobre as perspectivas da economia brasileira. E, especialmente, sobre as chances de investimento e comércio com os países visitados pelo presidente, na África e no Oriente Médio, que, como argumentará Lula, aumentaram sensívelmente as compras de produtos brasileiros. No Planalto, menciona-se o exemplo da Odebrecht, que chegou a abrir um supermercado em Angola, pressionada pela demanda local.

O encontro com empresários foi um dos temas da reunião de coordenação política, realizada na manhã de ontem. Segundo relato dos presentes, Lula teria dito que os "empresários brasileiros precisam ter pelo país o mesmo otimismo que os espanhóis têm em relação ao Brasil".

Embora a lista de convites seja mantida em sigilo pelo governo, sabe-se que foram chamados todos os grandes empresários que freqüentam as páginas de economia dos jornais. São esperados, por exemplo, o presidente do conselho da Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, o da Camargo Correa, Victos Hallack, o presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, e o executivo da Votorantim José Roberto Ermírio de Moraes, além de dirigentes de setores tão diversos como o atacadista, automobilístico, bancário, de informática e de defesa. Segundo uma fonte da indústria, as associações de classe receberam pedidos para indicar empresários para participar da reunião com o presidente. O governo buscava novas lideranças além dos tradicionais freqüentadores dos gabinetes de Brasília. (Colaborou Raquel Landim, de São Paulo)