Título: Senador tucano reage a governadores
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2007, Política, p. A11

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), vice-líder do partido no Senado, criticou ontem a tentativa de governadores tucanos de influenciar a posição da bancada na votação da prorrogação da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011. Segundo ele, 10 dos 13 senadores do PSDB querem votar pela extinção do imposto do cheque, "independentemente" das medidas propostas pelo governo em troca.

"Não entendo essa interferência dos governadores. Eles são candidatos (a presidente da República) e a opinião pública está contra", disse. Referia-se aos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), que, na sexta-feira, deram aval à cúpula tucana para negociar com o governo. Dias minimizou a força dos governadores sobre a bancada. "O fato de um governador ter posição não implica que os senadores concordem", afirmou.

Segundo Dias, a maioria da bancada é contrária à negociação com o governo em torno da CPMF, porque isso prejudica a imagem do partido. Lembra que na Câmara dos Deputados a bancada fechou questão contra a prorrogação e um recuo no Senado seria muito ruim. O PSDB está numa posição desconfortável na oposição. Está sendo colocado como fiel da balança para aprovar a CPMF enquanto o DEM fechou questão contra a prorrogação.

Segundo Dias, o partido não pode ser incoerente com o discurso que tem adotado contra o governo. "O partido diz que a carga tributária é escorchante. Ou votamos contra a CPMF ou mudamos o discurso", disse. Essa posição, de acordo com o paranaense, é majoritária entre os senadores do PSDB. Será reafirmada hoje, em almoço, aos senadores Tasso Jereissati (CE), presidente do partido, Arthur Virgílio (AM), líder da bancada, e Sérgio Guerra (PE), vice-líder e futuro presidente do partido.

Os três receberam dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), na sexta-feira passada, em encontro em São Paulo, aval para negociar com o governo. O ministro Guido Mantega (Fazenda) convidou Tasso, Virgílio e Guerra para um almoço na quinta-feira, no qual a CPMF será o principal assunto.

Sem os 49 votos necessários à aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) em sua base aliada, o governo precisa conquistar votos do PSDB. O governo aposta no interesse dos tucanos em manter os recursos da CPMF, já que o partido tem perspectiva de suceder a Luiz Inácio Lula da Silva em 2010.

"O governo não quer mexer na PEC. Então, vamos aceitar promessa de redução da alíquota ou de redução da carga tributária para o futuro? Quantas vezes o governo assumiu compromissos com a oposição e não respeitou? É uma questão de acreditar no governo Lula", disse Dias.

Os tucanos não têm posição definida em relação à CPMF. Segundo Tasso, apenas uma "proposta concreta" que resulte em corte de gastos públicos e redução da carga tributária levará o partido a votar favoravelmente à prorrogação da contribuição. Senadores da base aliada já apresentaram propostas para dar início às conversas, que prevêem redução gradativa da alíquota da CPMF ou faixa de isenção por valor de movimentação bancária.