Título: Etanol vai servir de exemplo ao combustível vegetal
Autor: Nakamura, Patrícia
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2007, Empresas, p. B6

A corrida pelo desenvolvimento do bioquerosene, combustível de origem vegetal que poderá disputar os tanques dos grandes aviões com a convencional querosene de aviação, ainda não desembarcou nas planilhas de custos das grandes companhias. Mas só a simples possibilidade de o produto tradicional ganhar um rival já chama a atenção de analistas de mercado e também dos centros acadêmicos de pesquisa.

"Tecnicamente, não consigo ver grande dificuldade na conversão dos óleos vegetais em bioquerosene. A questão é econômica", afirma o professor Luiz Augusto Horta da Universidade Federal de Itajubá, localizada no Estado de Minas Gerais.

De fato, o professor tem alguma razão. Mesmo sem saber qual será o caminho dos preços dos biocombustíveis, o que inclui o querosene vegetal, os fabricantes do produto vão precisar responder a duas questões antes de iniciar sua produção. A primeira diz respeito a quantidade de energia que será demandada para transformar o óleo vegetal em bioquerosene. E a segunda é descobrir se será mais rentável usar o óleo para produzir o bioquerosene ou para o biodiesel, por exemplo.

A equação não é simples, mas Lucas Brendler, analista de Investimentos da Geração Futuro Corretora, arrisca um palpite. Para Brendler, é impossível imaginar que o querosene vegetal não ganhe algum subsídio para que seja inserido na matriz energética.

"Talvez, aconteça no bioquerosene o mesmo que ocorreu no mercado brasileiro de etanol. Acredito também que o tempo de aprendizado poderá ser bastante semelhante", afirma ao Valor.

Apesar de promissor, por ter inclusive um forte apelo ambiental, o bioquerosene não é um produto para agora. "Os testes ainda são incipientes. Acho que poderá levar uma década ou até 15 anos para que ele efetivamente entre em operação", diz Brendler.

Contudo, o analista da Geração Futuro Corretora não duvida que o preço do bioquerosene deverá sofrer constante comparação com o querosene de aviação tradicional. Haverá, na sua opinião, uma análise bastante criteriosa da estrutura de custos.

Hoje, por exemplo, o galão de querosene de aviação aproxima-se dos US$ 2,42. No dia 1º de outubro deste ano, o produto custava US$ 2,28 por galão.

Os altos preços do combustível para aviação refletem também a escalada dos valores internacionais do barril de petróleo. Ontem, na Bolsa Mercantil de Nova York, o produto do tipo WTI para novembro deste ano foi negociado a US$ 87,56, queda de US$ 1,04. Já na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres, o barril do tipo Brent para dezembro foi vendido a US$ 83,27, baixa de 52 centavos de dólar.

Depois de várias sessões em alta, onde chegou a ser cotado próximo dos US$ 90 em Nova York, o petróleo recuou ontem, porque há um temor de que haja redução no crescimento econômico mundial. Em outras palavras, isso diminuiria a demanda por energia no futuro próximo.

Além disso, a commodity também refletiu o arrefecimento das tensões entre os guerrilheiros curdos e os turcos na fronteira entre o Iraque e a Turquia. Essa indicação faz o mercado acreditar que a extração de petróleo iraquiana não sofrerá interrupção. (Com agências internacionais)