Título: Furlan agora diz que o câmbio não atrapalha
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2005, Brasil, p. A5

Identificado com o grupo de opositores às medidas de política econômica que têm mantido os juros altos e dólar desvalorizado, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, mudou de tom: o país passa por uma acomodação, os juros não são suficientes para atrapalhar o crescimento e empresários já vêm se adaptando ao dólar desvalorizado, afirmou o ministro, em entrevista para apresentar a nova Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). "É natural que o aumento da taxa de juros provoque alguma contração na economia", comentou o ministro, lembrando que reduzir o ritmo de crescimento é exatamente a intenção do Banco Central. "Mas isso não compromete o crescimento e nossas exportações", defendeu o ministro, que disse cultivar um "otimismo regulamentar". O que ocorre é um "acidente de percurso", e o otimismo vai voltar ao país em meados do ano, previu. "Assim como mais dia menos dia o Brasil vai ter de testar uma taxa de juros mais parecida com os níveis internacionais, o mesmo ocorre com a taxa de câmbio", desconversou Furlan, ao lhe perguntarem sobre as críticas da indústria às taxas de juro e de câmbio. "É uma questão de tempo", afirmou. O país, argumentou o ministro, passa por uma "situação de acomodação". Citando o exemplo de um executivo da empresa de calçados canadense Bata International, que abriu um centro de produção no Brasil, Furlan comentou que empresários extrangeiros têm mostrado interesse em investir no país como plataforma de exportação. Embora os exportadores tenham dificuldade em ajustar seus preços às novas cotações do dólar, nas vendas aos mercados tradicionais, a diversificação de mercados promovida pelos produtores brasileiros tem permitido, em muitos casos, bons negócios na exportação. A indústria de calçados tem movido sua linha de produtos para mercadorias mais caras, também adaptando-se à situação, lembrou. "É um processo de acomodação; há uma mudança cultural na indústria e o mercado externo faz parte da equação de qualquer empresa", argumentou o ministro, para quem "alguns setores estão perdendo rentabilidade e outros permanecem em busca de competitividade". Na única crítica que fez à política de câmbio, Furlan socorreu-se do outro colega de ministério também identificado com a oposição às ações do Banco Central no câmbio e nos juros: "Alguns setores estão sofrendo com a taxa de câmbio; o ministro (da Agricultura) Roberto Rodrigues tem comentado que os produtores de soja estão com o preço historicamente baixo e com alto custo de insumos e máquinas agrícolas".