Título: Menos do que o esperado
Autor: Ribas, Sílvio ; Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 25/01/2011, Economia, p. 13

CONJUNTURA Consumo de energia sobe 7,8%, abaixo da projeção oficial. A indústria ditou o rumo, mas deve perder terreno para o comércio

O consumo de energia elétrica no Brasil deve subir 5,4% este ano, prevê o governo. O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, afirmou ontem que essa estimativa para o crescimento anual da demanda, chegando à marca histórica de 441,4 mil gigawatts-hora, será puxada pelo comércio e pelos serviços, com uma expansão setorial de 7,3%. A EPE divulgou ainda o seu balanço de 2010, que apontou expansão de 7,8% no consumo total, pouco abaixo da previsão original, de 8,1%.

Tolmasquim explicou que a projeção menor para 2011 se deve ao simples fato de a base de comparação ser maior. ¿No ano passado, o crescimento se deu sobre um patamar pequeno, pois houve queda em 2009 em reflexo da crise econômica internacional¿, disse o presidente da EPE na reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico. Segundo ele, o consumo de energia elétrica nas indústrias deve aumentar 5,3% este ano, seguido do da classe residencial, com 5,2%.

Em 2010, o consumo de eletricidade se elevou na onda de recuperação da economia, acelerado pelas classes residencial e comercial, enquanto as indústrias apenas consolidaram a retomada iniciada no segundo semestre. ¿No ano passado, o consumo da indústria liderou a expansão, contribuindo com 4,5 pontos percentuais na taxa anual¿, informou comunicado da EPE.

A evolução desse consumo nos últimos anos tem sido favorecida por um mercado de trabalho aquecido e pela oferta de crédito, que vem estimulando a aquisição de aparelhos eletrodomésticos, com impacto direto na demanda geral. Apenas em dezembro, as residências aumentaram a procura em 4,6%.

Padrão Apesar de a expansão ter sido abaixo da previsão de 8,1%, o diretor do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe), Luiz Pinguelli Rosa, o resultado mostra que ¿a economia nacional cresce a passos largos e o padrão de vida do brasileiro está melhorando¿.

Na avaliação do professor da Universidade de Brasília (UnB) Ivan Camargo, o consumo da indústria ficou acima das expectativas, refletindo o aquecimento da economia. ¿A demanda geral tem taxas de crescimento expressivas há vários anos, numa média anual de 5%. O maior gasto com energia industrial e residencial é reflexo da melhora da renda do brasileiro e do reaquecimento da produção¿, resumiu.

Ele lembra que, em 2010, o consumo residencial subiu significativamente no Norte e Nordeste ¿ 7,1% e 6,2%, respectivamente. ¿Esse aumento é reflexo da melhoria na qualidade de vida dos habitantes dessas regiões. A renda melhorou e eles passaram a consumir mais, a comprar mais eletrodomésticos, como ar condicionado¿, afirmou Camargo.

O professor da UnB recordou que o aumento na atividade econômica serve de alerta para que o crescimento do sistema de fornecimento e distribuição de energia. ¿O consumo de energia deve dobrar até 2020. O governo não pode se descuidar e tem que estar preparado para melhorar a infraestrutura e diversificar a matriz energética do país¿, disse, lembrando que, em 2001, o país dependia exclusivamente da energia hidráulica.

As usinas térmicas já respondem por quase 25% do total, com o peso de produzirem uma energia cara e poluidora, mas que atendem as necessidades do Norte e do Nordeste. ¿A diversificação é indispensável. A eólica, por exemplo, é bastante competitiva e os últimos leilões foram bem-sucedidos. Não é em toda região que pode ser utilizada, mas não deixa de ser uma opção de abastecimento complementar¿, destacou Ivan Camargo. O professor descartou o risco de apagão.

Pinguelli Rosa, da Coppe, também faz essa ponderação: ¿Há várias usinas em construção, voltadas para atender à demanda crescente. Não vejo problema. Há tempo de sobra para ajustar a capacidade de geração de energia nesta década¿, afirmou. Analistas acrescentam que as chuvas torrenciais deste começo de ano em quase todo o país também vão garantir reservatórios de hidrelétricas cheios, sem riscos para a geração ao longo do ano.

No começo do mês, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, alertou para os riscos gerados por um crescimento do consumo de energia em velocidade superior à alta do Produto Interno Bruto (PIB), em torno de 7% em 2010. Segundo ele, o país será obrigado, em 20 anos, a dobrar o estoque atual de energia, de 110 mil megawatts (MW). Por isso, apelou por mais agilidade na liberação de licenças ambientais para projetos de hidrelétricas.

Produção da Petrobras » A Petrobras informou ontem que bateu recorde de produção de petróleo e gás no ano passado, chegando a 2,583 milhões de barris na média diária das operações no país e no exterior. Em relação a 2009, o crescimento foi de 2,3%. Só no Brasil, foram 2,008 milhões de barris diários, volume também inédito, numa expansão de 1,7%. Segundo comunicado da estatal, ela galgou uma posição no ranking das maiores empresas de energia do mundo, atingindo o 3º lugar. e acordo com a consultoria PFC Energy, a companhia tem valor e mercado de US$ 228,9 bilhões, ganhando da Shell (Reino Unido) da Chevron (EUA). A lista é liderada pela ExxonMobil (EUA), com US$ 368,7 bilhões, e pela Petrochina (US$ 303,3 bilhões).