Título: Busca por Bovespa chega a US$ 20 bi
Autor: Silva Júnior , Altamiro; Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2007, Finanças, p. C1

A procura pelas ações da Bolsa de Valores de São (Bovespa) disparou nos últimos dias. Ontem, o mercado comentava que a demanda, principalmente de grandes investidores estrangeiros e pessoas físicas no Brasil, já seria dez vezes maior que o oferta, com reservas batendo em quase US$ 20 bilhões.

Com o forte interesse, os bancos coordenadores da oferta decidiram aumentar a faixa indicativa de preços das ações para a faixa de R$ 20 a R$ 23, acima dos R$ 15,50 a R$ 18,50 inicialmente propostos. Com o preço maior, a operação pode girar mais de R$ 6 bilhões.

A Bovespa vai vender 288 milhões de ações, incluindo um lote suplementar. Comenta-se que cerca de 80% dos papéis vão ficar com investidores estrangeiros. O restante ficaria dividido entre grandes investidores brasileiros (fundos de pensão) e pessoas físicas.

A elevação de 29% no piso da faixa indicativa de preço foi criticada ontem por investidores. "Isso é antiético, especialmente porque a medida foi comunicada um dia antes do prazo de encerramento das ofertas", disse o diretor de renda variável de um fundo de pensão. Ele disse que, em tese, a tentativa da bolsa e dos coordenadores da oferta é de ajustar a demanda pelo preço, já que há um interesse pelas ações muito maior do que o número de papéis ofertado.

Com a decisão de mudar o preço, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinou que se abra a possibilidade de investidores que apresentaram suas ofertas de retirá-las. O prazo para desistência termina amanhã - o resto do cronograma não foi alterado. "Mas, na prática, ninguém tira as ordens. O que aconteceu é que a bolsa se apropriou do lucro e tirou o ganho das mãos dos investidores", criticou o executivo. Para ele, a reação do mercado à oferta da Bovespa está menos técnica e mais pautada pelo "emocional coletivo". O caso lembra o da Redecard, quando a faixa de preço também foi elevada às vésperas do fechamento.

A informação de que a forte demanda levaria a uma mudança na faixa de preços já circulava no mercado financeiro no fim da manhã de sexta-feira. Mas a expectativa era de que o ajuste ficaria abaixo de 20%. Na sexta, a demanda já teria alcançado US$ 10 bilhões, quase cinco vezes o valor que seria captado caso a oferta saísse no piso anterior. Ontem, a demanda subiu ainda mais, com um grande número de ordens de pessoas físicas. Como todos sabem que haverá rateio, a demanda acabou sendo artificialmente inflada, com investidores reservando os papéis em todos os CPFs possíveis.

Por conta da forte demanda, a CVM determinou que sejam excluídas as ordens de compra de pessoas relacionadas - inclusive as feitas em nome das próprias corretoras. Uma novidade é a de que, desta vez, os coordenadores cobraram dos investidores institucionais cartas assinadas indicando a quantidade de ações pretendida. Antes, bastava um telefonema.

Em Washington, o ministro da Fazenda Guido Mantega comentou a abertura de capital da Bovespa. "O interesse no mercado brasileiro é muito forte", disse em entrevista no Fundo Monetário Internacional (FMI). "Eu acredito que eles vão captar mais de US$ 2,5 bilhões".