Título: Investimento produtivo lidera a entrada de IED este ano, aponta BC
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2007, Finanças, p. C2

Levantamento feito pelo Banco Central mostra que 77,3% dos investimentos estrangeiros diretos que ingressaram no país neste ano foram dirigidos ao aumento da capacidade produtiva do país, como abertura de filiais de empresas multinacionais, instalação de fábricas e ampliação de linhas de produção.

O país vive neste ano um surto de investimentos diretos, que chegaram a US$ 34,889 bilhões nos 12 meses encerrados em setembro, 86% maior do que o ocorrido em 2006. As remessas de lucros e dividendos, porém, também crescem aceleradamente: atingiram US$ 18,530 bilhões no mesmo período, expansão de 13% em relação a 2006. Alguns analistas econômicos questionam se os crescentes investimentos diretos não irão causar desequilíbrios nas contas externas, ao pressionar as remessas de lucros.

O levantamento feito pelo BC mostra que os investimentos estão, de fato, contribuindo para aumentar a capacidade produtiva do país, o que permitirá que no futuro o país gere - ou economize - mais divisas para fazer frente aos seus compromissos do balanço de pagamentos.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse que os técnicos da instituição fizeram um minucioso levantamento do destino dos recursos que ingressaram no país, discriminando o que vai para atividades novas e o que é dirigido à aquisição de participações acionárias. Os dados mostram que, de janeiro a setembro deste ano, 77,3% foram para novos projetos. Em 2006, o percentual foi de 84,5%.

O percentual caiu devido a três grandes operações pontuais ocorridas em junho. Uma delas foi a a oferta pública feita pela ArcelorMittal, que chegou a US$ 5,4 bilhões, para comprar ações da Arcelor Brasil.

Apesar da queda, o percentual de 77,3% é considerado alto. "É um dado surpreendente", afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima. "No resto do mundo, 67% dos investimentos vão para fusões e aquisições. Ou seja, não são investimentos no aumento da capacidade produtiva."

O economista diz que o fluxo de capitais para a ampliação da capacidade produtiva diferencia o atual ciclo de investimentos diretos do anterior, ocorrido após o Plano Real. "Naquele período, 22% dos investimentos iam para as privatizações", afirma. "Além disso, muitos empresários que não conseguiam competir venderam suas empresas."

Lima diz que o atual ciclo de investimento está dirigido a ampliar a capacidade produtiva para atender ao crescente mercado interno. Evidência disso, afirma, é o fato de 46,7% dos investimentos serem no setor de serviços, que se destinam sobretudo a atender a demanda interna.

Entre os serviços, o comércio foi o que mais recebeu recursos, com US$ 3,631 bilhões, de janeiro a setembro. Intermediação financeira recebeu US$ 3,242 bilhões e construção, US$ 1,126 bilhão. No setor industrial, os destaques são a metalurgia (US$ 7,310 bilhões) e o setor químico (US$ 2,408 bilhões). A mineração recebeu US$ 3,919 bilhões.

Os investimentos diretos em outubro somam US$ 2,3 bilhões, e a previsão do BC é que cheguem a US$ 3,3 bilhões. A expectativa do mercado é que os investimentos diretos superem em 2007 o volume recorde de US$ 32,779 bilhões ocorrido em 2000.

As remessas de lucros e dividendos, por outro lado, vem registrando volumes crescentes. Somaram US$ 1,686 bilhão em setembro e os números parciais de outubro, até o dia 22, registram US$ 1,8 bilhão. "O aumento do lucro das empresas e a apreciação da taxa de câmbio contribuem para o aumento das remessas de lucros e dividendos", afirma Lopes, do BC.

O setor que mais remete lucros e dividendos ao exterior é o de fabricação de veículos, com US$ 1,7 bilhão de janeiro a setembro. Em seguida, vêm a intermediação financeira, com US$ 1,356 bilhão, e a indústria de produtos químicos, com US$ 1,094 bilhão. O comércio, um dos destaques na atração de investimentos diretos, remeteu US$ 662 milhões.