Título: Acúmulo vai se manter, mesmo com novo fundo
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2007, Finanças, p. C10

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmaram ontem que o processo de acumulação de reservas internacionais não será interrompido com a criação do fundo soberano de investimentos que o governo quer criar para aplicar em ativos no exterior.

Ressaltando que os detalhes da iniciativa ainda estão em estudos, eles indicaram que o fundo terá sua administração totalmente separada da gestão das reservas, que é feita pelo Banco Central. Mas ambos disseram que ainda não definiram onde serão captados os recursos que irão financiar os investimentos do novo veículo.

A origem dos recursos foi motivo de controvérsia nos últimos dias por causa das declarações desencontradas que Meirelles e Mantega fizeram sobre o assunto. O ministro disse que o fundo seria constituído com dinheiro das reservas, hipótese proibida pela legislação brasileira, como o presidente do BC lembrou.

Ontem, novamente em entrevistas separadas, eles fizeram questão de dizer que não têm divergências sobre o tema e tentaram esclarecer suas declarações anteriores.

Ambos indicaram que o novo fundo captará recursos no mercado de forma independente dos leilões que o Banco Central realiza para adquirir reservas.

"As reservas brasileiras de liquidez, que são administradas pelo Banco Central, continuarão sendo feitas exatamente da mesma maneira", afirmou Meirelles.

"As reservas vão continuar sendo adicionadas na medida em que o governo julgue que é do interesse da nação continuar acumulando reservas de liquidez."

O Brasil tem hoje US$ 165 bilhões em reservas, suficientes para pagar integralmente a dívida externa do setor público e a maior parte dos compromissos do setor privado. Meirelles e Mantega indicaram que o novo fundo começaria a captar recursos depois que as reservas ultrapassarem o nível necessário para quitar as obrigações externas do país, US$ 194 bilhões no total.

Mas ontem eles disseram que isso não significa que a acumulação de reservas será interrompida nesse ponto. "As reservas não têm limite [...], elas poderão passar dos US$ 200 bilhões de dólares", disse Mantega. "Mas a partir de um certo patamar podemos fazer uma compra direta, [...] o fundo compra diretamente os dólares no mercado. Nada impede que as reservas tradicionais continuem aumentando."

Meirelles e Mantega participaram ontem de um evento organizado pela Brazilian-American Chamber of Commerce, uma associação formada nos Estados Unidos por investidores com negócios nos dois países. Em conversas informais durante o evento, economistas de dois bancos brasileiros que ajudaram a patrocinar a reunião manifestaram dúvidas sobre a viabilidade do novo fundo e seu custo fiscal.