Título: Lula pede mais rigor no gasto social
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2005, Política, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) admitiu ontem que um dos principais programas de seu governo na área social, o Bolsa Família, precisa ter "maior seriedade" em sua organização. O projeto de transferência de renda é alvo de denúncias de fraudes. "Lógico que quando nós criamos um programa como esse, sabíamos que ele poderia ter equívocos, erros", disse. Lula prometeu honrar os compromissos no combate à fome e à miséria, comparando a herança recebida ao "vendaval" da Ásia - "Sofremos muito em 2003, porque pegamos a casa depois de um vendaval como aquele que deu na Ásia e tivemos que consertar; 2004 já foi um ano em que a economia cresceu 5% e geramos 2 milhões de empregos com carteira profissional assinada". O presidente referia-se ao tsunami que atingiu a Ásia no Natal de 2004. Ontem o presidente visitou Guarulhos, a maior cidade paulista governada pelo PT, para participar da cerimônia de entrega de 10 mil cartões para famílias beneficiadas pelo Bolsa Família. Lula cobrou do ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, mais rigor no cadastramento de famílias carentes: "Só pode receber o Bolsa Família, quem realmente precisa; quem não precisa tem que dar o lugar para outra pessoa receber." Depois de falar que "às vezes fica chateado com a imprensa", Lula agradeceu os meios de comunicação por divulgarem fraudes e "alertar o governo de que precisa agir". Em seguida, pediu para que a população fiscalize: "Queremos que a sociedade fique alerta, porque se conhecer alguém que está recebendo e não tem direito de receber, temos que ser avisados." Acompanhado pelos ministros Humberto Costa (Saúde) e Olívio Dutra (Cidades) e pelo senador Aloizio Mercadante, o presidente foi aplaudido de pé por cerca de dez mil pessoas no estádio poliesportivo Ginásio Poliesportivo Paschoal Thomeu. "O valor do Bolsa Família é muito barato. Em média, R$ 80 por pessoa. Se pudesse, daria mais", disse Lula. "O que gastamos com os programas sociais é menos do que se gasta com um preso. E as palavras-chave 'amor, paciência e carinho' não estão no manual da Polícia, nem dos carcereiros da Febem." A cada declaração exaltada ou aceno, aplausos da platéia formada em sua maioria por mulheres o impediam de falar. O presidente defendeu o Fome Zero, que engloba o Bolsa-Família, como "o maior programa de transferência de renda da América Latina", mas disse que não é uma "vantagem" para o país . "Ter esse programa significa que durante muitos e muitos anos os governantes deste país esqueceram uma parcela da população que, por conta do esquecimento, foi ficando pobre". Em seguida, Lula criticou indiretamente Fernando Henrique Cardoso e disse herdado uma dívida "quase impagável". "Deixaram ao longo de muitos e muitos anos, uma dívida social quase que impagável, tão grande quanto a dívida pública interna e externa que herdamos". O presidente disse que vai honrar os compromissos financeiros e sociais. "O combate à fome e à miséria tem que ser prioridade do nosso governo, doa a quem doer." As críticas à gestão FHC continuaram durante a visita a um conjunto habitacional construído com recursos do governo federal para famílias de baixa renda.Ao lado do prefeito de Guarulhos, Elói Pietá (PT), Lula visitou a obra de um hospital na periferia de Guarulhos e disse que só depois de ter assumido a presidência, as obras- planejadas desde 2000- começaram. Em clima de otimismo ao falar da economia do país, Lula reforçou os resultados positivos das balança comercial e acredita que o "segundo tempo" de seu governo será de crescimento. "Levanto todo dia com a certeza absoluta de que 2005 será extraordinário para o desenvolvimento do país, para o crescimento econômico, para a geração de riqueza e de empregos e para a distribuição de renda." Lula justificou sua visita ao Fórum Econômico de Davos como forma de garantir "igualdade" nas disputas econômicas. "A situação do Brasil está tranqüila, a credibilidade está muito boa lá fora. E eu digo sempre: respeito é bom, eu gosto de dar e adoro receber. É por isso que nós viajamos o mundo para dizer: o Brasil quer competir em igualdade de condições em todos os fóruns internacionais."