Título: Desembolso recorde
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 25/01/2011, Economia, p. 13

A capitalização da Petrobras e a política de sustentar o investimento com incentivo público, executada no fim do governo Lula, levaram o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a registrar um volume recorde de desembolsos em 2010. A instituição concedeu R$ 168,4 bilhões em financiamentos, valor 24% superior ao liberado no ano anterior. Sem a operação com a petrolífera, no total de R$ 24,7 bilhões, o crescimento teria sido de 5% ¿ desempenho ¿compatível com as projeções anteriores¿, segundo avaliação do banco. A indústria foi o setor mais beneficiado, com R$ 78,8 bilhões e expansão de 47% ¿ as companhias químicas e petroquímicas lideraram os empréstimos (R$ 33,8 bilhões).

¿A soma dos desembolsos foi recorde, mas além do número é preciso avaliar o que está por trás dele. O ponto principal é que a participação das micro, pequenas e médias empresas no financiamento saiu de 18% para 27%¿, ponderou o técnico do BNDES Gabriel Visconti. No ano passado, esse segmento recebeu R$ 45,7 bilhões em recursos, resultado obtido em função do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). A ação, lançada em julho de 2009 e com vigência prevista até março deste ano, proporcionou taxas de juros e condições mais amigáveis para financiamentos voltados, principalmente, à compra de máquinas e equipamentos.

Na visão de Leonardo dos Santos, economista da agência de classificação de risco Austing Ratings, ¿o BNDES teve papel importante para as empresas de pequeno e médio porte, principalmente na época da crise, quando as linhas de crédito do setor privado secaram¿. Para ele, a atuação do banco foi positiva porque, além de garantir o fluxo de recursos para uma parcela mais ampla do setor produtivo, permitiu o crescimento de segmentos específicos. ¿Foi uma aposta em empresas que tinham, por exemplo, um enorme potencial de internacionalização. É uma política natural de canalização de recursos¿, afirmou.

Apesar de garantir recursos para investimentos, a eficiência da postura expansionista é contestada por parte do mercado. ¿Com a quantidade de dívida que o governo emitiu em 2009 e 2010 para reforçar o caixa do BNDES, era esperado que os desembolsos subissem muito, incluindo as pequenas e médias. Mas a pouca eficiência disso nós vemos na taxa de formação bruta de capital fixo (investimento) que não passa ainda dos 19% do Produto Interno Bruto (PIB)¿, afirmou Felipe Salto, da consultoria Tendências.

Para ele, a promessa de elevar a taxa de investimento para 24% do PIB até o fim do mandato não será cumprida, caso o governo continue confiando no banco como única fonte de fomento. ¿Se a instituição permanecer com esse tamanho (de caixa), quem vai ter que sustentar esse peso é o setor público¿, completou. A avaliação de Salto é baseada no fato de que as emissões que capitalizaram o BNDES elevam a dívida bruta do país. A disposição demonstrada pelo governo, porém, é de reduzir o papel do BNDES no total de crédito concedido na economia. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou, no início de dezembro, medidas de incentivo ao financiamento de longo prazo pelos bancos privados.

Entre as iniciativas, está a isenção de Imposto de Renda (IR) para a emissão de debêntures (papéis de instituições privadas) voltadas ao financiamento de projetos de infraestrutura. ¿Ainda não há um volume fechado, mas não há dúvida que nesse aspecto, vale a palavra do presidente do BNDES (Luciano Coutinho). A intenção é aumentar a participação do setor privado para que o ritmo de crescimento dos investimentos seja mantido no longo prazo¿, ressaltou Visconti.

O banco caminha na direção correta, avalia Salto. ¿Ele é importante e precisa existir, mas para fomentar projetos e segmentos estratégicos e não administrar um bolo de crédito gigantesco¿, afirmou. Depois da indústria, o setor que mais recebeu recursos foi o de infraestrutura, com R$ 52,4 bilhões em liberações e crescimento de 31%. Nessa rubrica, os projetos na área de transporte rodoviário e energia elétrica foram os maiores beneficiados, com R$ 25,9 bilhões e R$ 13,6 bilhões, respectivamente.

Justificativa No período pós-crise, o Tesouro Nacional emitiu diretamente R$ 180 bilhões (R$ 100 bilhões em 2009 e o restante no início de 2010) em títulos da dívida pública com o objetivo de reforçar o caixa do BNDES. A justificativa era suprir a escassez de crédito que as grandes empresas enfrentavam no mercado doméstico e externo e contra a qual lutavam as pequenas companhias nos bancos privados médios.

Caixa forte Desembolsos por segmento econômico em 2010 e crescimento em relação a 2009

Setor - Financiamentos Variação (Em R$ bilhões) (Em %) » Indústria 78,8 / 47

» Infraestrutura 52,4 / 31

» Comércio e Serviços 27,1 / 16

» Agropecuária 10,1 / 6

Fonte: BNDES