Título: Investidor poderá desistir de IPO da Bovespa, diz CVM
Autor: Cotias, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2007, Investimentos, p. D2

Com a alteração da faixa de preços da oferta pública inicial (IPO, em inglês) da Bovespa Holding, o investidor de varejo poderá desistir da operação. Diante da forte procura dos estrangeiros, os coordenadores, o Goldman Sachs e o Credit Suisse, elevaram o intervalo inicial, que ia de R$ 15,50 a 18,50. Até o fechamento desta edição, o mercado trabalhava com duas novas bandas ontem: entre R$ 19,00 e R$ 23,00 e de R$ 20,00 e R$ 26,00. De conhecimento das alterações que vinham sendo articuladas entre os bancos e os investidores institucionais, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) exigiu que a Bovespa abrisse as informações também para o pequeno investidor, dando a opção de ele cancelar os lotes encomendados em até cinco dias.

"O investidor que colocou na reserva que compraria as ações a preços de mercado tinha em mente aquele teto máximo de R$ 18,50 e não a faixa nova", disse o superintendente de registro da CVM, Carlos Alberto Rebello Sobrinho. "Como essa é uma informação diferente daquela que era pública, não tínhamos alternativa a não ser exigir a democratização e possibilitar que o comprador revisse sua decisão." Como a demanda superou em 30% a oferta inicial, os investidores vinculados (pessoas ou instituições que tenham qualquer relacionamento com a bolsa) também foram excluídos da operação.

À venda, foram colocadas 250,5 milhões ações ordinárias (ON, com direito a voto). Se saírem na média do intervalo mais alto, a R$ 23,00, a Bovespa vai estrear no Novo Mercado no dia 26 valendo mais de R$ 16 bilhões, capitalização que, entre as novatas, só perde para a da Redecard - que chegou ao pregão em julho com um valor de mercado de R$ 18,2 bilhões, após também ter vendido suas ações num valor 8% acima do teto.

A oferta da Bovespa é secundária (de papéis existentes), nada vai para o caixa da holding e, sim, para as corretoras que tiveram seus títulos patrimoniais convertidos em ações. O varejo pode reservar lotes a partir de R$ 3 mil nessa operação que vai inaugurar o filtro anti-flipping (de aplicadores que compram ações em IPO para vender logo na largada). Já no documento da reserva, o investidor tem de se classificar como "com" ou "sem prioridade de alocação.

O primeiro grupo será assim enquadrado se tiver mantido no primeiro dia de liquidação após a estréia no pregão pelo menos 80% das ações adquiridas em três dos quatro últimos IPOs. Se o aplicador nunca participou de IPOs, ele será automaticamente classificado como prioritário. Já aqueles que não escolherem a classificação ou tiverem menos de 80% dos ativos adquiridos nas ofertas anteriores cairão na "malha fina".

Ao listar suas ações no pregão, a Bovespa segue os passos de bolsas como a New York Securities Exchange (NYSE), a Deutsche Borse AG, a Euronext, a Nasdaq ou a London Stock Exchange. No primeiro semestre, a Bovespa representou o 21º maior volume negociado entre as bolsas mundiais, com US$ 236 bilhões - o giro da NYSE superou os US$ 13 trilhões. No ano passado, a capitalização de mercado representava 65% do PIB brasileiro, acima de México (41%) e Chile (34%), mas abaixo de Estados Unidos (116%), Japão (108%) e Espanha (103%). Hong Kong, com 906%, e África do Sul, com 290%, lideravam essa relação.

O crescimento dos resultados da Bovespa será conseqüência do aumento do giro financeiro, já que a principal fonte de receita vem dos emolumentos, percentual cobrado sobre as transações. O volume médio diário da Bovespa aumentou de R$ 558 milhões em 2002 para R$ 2,4 bilhões no ano passado, o que representa uma taxa média composta de crescimento anual de 44,5%. Nos primeiros nove meses de 2007, a expansão foi de 88,4%, a R$ 4,3 bilhões.