Título: Diminui distância entre produção e consumo
Autor: Lamucci, Sergio; Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2007, Brasil, p. A4

O descompasso entre o crescimento da produção e o do consumo está diminuindo. No bimestre julho-agosto, a produção industrial cresceu 6,8% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as vendas no varejo tiveram alta de 9,6%, na mesma base de comparação. A diferença é de 2,9 pontos percentuais, menor que os 4,2 pontos registrados no segundo trimestre, quando o consumo aumentou 10% e a indústria, 5,8%, pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento do consumo ainda é mais expressivo, mas os números mostram uma reação da produção, que responde à expansão firme do mercado interno.

No fim do ano passado e no começo deste, havia o temor de que as importações passassem a roubar cada vez mais espaço da indústria brasileira, num ambiente de contínua valorização do câmbio. Hoje, esse medo parece infundado. "A produção dá sinais de que começa a recuperar o tempo perdido", diz a economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados.

De acordo com ela, a forte demanda interna mobilizou a indústria. "Não é apenas a produção de bens finais que está crescendo, mas também a de bens de capital." Isso indica que as empresas estão ampliando a capacidade produtiva, confiantes de que o consumo vai continuar forte daqui em diante. Thaís diz que a indústria começou a ir bem no segundo trimestre e deslanchou de vez no terceiro.

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, vê um cenário positivo para a produção industrial neste ano. Com base em indicadores como a expedição de papelão ondulado, a fabricação de veículos automotores e o consumo de energia elétrica, ele estima que, em setembro, a indústria tenha crescido 8,5% em relação ao mesmo mês de 2006. Para ele, o desempenho indica que as empresas se preparam para um Natal bastante promissor.

O crescimento forte da produção no terceiro trimestre já seria um sinal de que as encomendas para o fim de ano estão bastante animadoras. Os números sinalizam, segundo Vale, que o aumento do consumo tem sido abastecido em grande pela produção doméstica, ainda que as quantidades importadas continuem a crescer a um ritmo superior a 20%. Ele ressalta a aceleração significativa da produção de bens duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos) ao longo de 2007. No acumulado no ano até abril, a produção desses bens subia 3,1% na comparação os quatro primeiros meses do ano passado. De janeiro a agosto, a alta acumulado aumentou para 6,9%.

Com renda em expansão e juros em baixa, o quadro para o consumo é bastante positivo, como fica evidente nos números do chamado comércio varejista ampliado (que inclui veículos, motos, partes e peças e de material de construção). No bimestre julho-agosto, as vendas nesse segmento aumentaram 13,5% na comparação com o mesmo período do ano passado, um número forte, mas um pouco abaixo dos 15,4% do segundo trimestre.

Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora, ressalta que a quantidade de produtos importados e a produção estão crescendo com força, ao mesmo tempo em que todas as sondagens da indústria mostram que os estoques continuam em níveis baixos. "São sinais de que a demanda final está crescendo muito", diz.

Para Montero, o crescimento do investimento tem um peso fundamental nesse cenário. Entre janeiro e agosto deste ano, a produção industrial já acumula alta de 5,3% em relação a igual período do ano passado. O comércio varejista ampliado, já avançou 13,8%, enquanto os investimentos, pelos cálculos de Montero, crescem a um ritmo de 25% no acumulado do ano.

A continuidade da valorização do real em relação do dólar e o aumento dos investimentos em capacidade produtiva também deram um gás maior para a indústria. "Ele aumentou a competitividade da indústria brasileira (que utiliza insumos importados) e ainda permitiu a continuidade das exportações", dia Maurício Moura, economista do Ibmec-SP. Ele diz que é preciso lembrar ainda que a queda dos juros básicos é um movimento que tem ocorrido há um bom tempo e tem reflexos na taxa de longo prazo, pois define o custo de financiamento para as empresas. "Com os juros menores, fica mais fácil investir e ser mais produtivo", explica Moura.

O IBGE divulgou ontem o resultado das vendas do comércio varejista em agosto, que mostraram alta de 9,9% em relação a igual mês de 2006. Foi o melhor resultado para um mês de agosto desde o início da série histórica, em 2001. No ano, a alta acumulada é de 9,7%. No caso do varejo ampliado, houve aumento de 14,9% em agosto. (Colaborou Rafael Rosas, do Valor Online)