Título: Bush usa discurso para vender reforma da Previdência
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Fonte: Valor Econômico, 03/02/2005, Internacional, p. A11

O presidente Bush iria mencionar ontem, no seu mais importante discurso do ano, o do Estado da União, feito ao Congresso, a necessidade de reduzir o déficit público, mas concentraria a maior parte da retórica para defender a reforma da Previdência, que poderá a curto prazo até aumentar o buraco nas contas do governo federal. Até recentemente, Bush mencionava a contragosto a necessidade de reduzir o déficit público, mas desta vez lembrará a necessidade de austeridade fiscal, preparando o terreno para submeter ao Congresso uma proposta de orçamento para o ano fiscal de 2006 com despesas praticamente congeladas em relação ao Orçamento deste ano. Mas a maior ênfase seria para a necessidade de reforma da Previdência Social, uma das propostas mais polêmicas de seu governo, e que Bush tem insistido em tornar sua grande plataforma no segundo mandato. Segundo partes divulgadas antes do início do discurso, que começaria à meia-noite no horário de Brasília, Bush iria dizer que a reforma da Previdência é necessária para "salvar o sistema da ruína" financeira. A proposta de criação de contas individuais para substituir o sistema de repartição atual atrai a ira da oposição, mas também encontra resistência dentro do próprio partido Republicano. O sistema previdenciário americano é superavitário e só passará a ter déficit dentro de 40 anos. A curto prazo, reformar a Previdência poderá aumentar ainda mais o déficit público. A migração do sistema de repartição para o de contas individuais deve custar em torno de US$ 2 trilhões que terão que ser repostos para compensar a queda de arrecadação quando os trabalhadores jovens começarem a contribuir para as contas individuais. Apesar dos pedidos da oposição para que o presidente dê uma data para retirada de tropas no Iraque após o sucesso das eleições no país no último fim de semana, Bush pretendia informar ao Congresso que as tropas voltarão aos EUA quando o Iraque tiver condições de defender-se sozinho. Segundo assessores, o discurso de Bush enfatizaria a prioridade do treinamento de soldados do exército e polícia do Iraque ao longo do próximo ano para permitir a saída das tropas americanas. Previa-se a presença de eleitores iraquianos na platéia, que deveriam sentar-se ao lado da primeira-dama Laura Bush. O Estado da União é um dos discursos mais tradicionais na política dos EUA. Ocorre sempre numa sessão conjunta do Congresso, com a audiência dos juízes da Suprema Corte, ministros de Estado e convidados. Um dos assessores do presidente responsáveis pela elaboração do discurso, Dan Bartlett, disse que Bush iria apelar para a negociação no Congresso com a oposição. Mas o Partido Democrata já avisou que votará unido contra a proposta, ressaltando que a Previdência está solvente pelas próximas décadas. Pesquisas de opinião divulgadas ontem mostraram recuo dos índices de aprovação de Bush desde sua vitória em novembro. Os índices de aprovação em duas pesquisas foram de 48% e 50%.