Título: Juro é responsável por gasto maior, diz Ipea
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2007, Brasil, p. A5

Um dia após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) interromper a sucessão de cortes na taxa de juros, o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, apontou que as despesas com juros da dívida pública têm maior responsabilidade no aumento das despesas do governo que os gastos com pessoal. "Se o Brasil mantivesse taxa de juros comparável internacionalmente, o gasto com a dívida poderia ser 3% a 4% do PIB menor", disse. "E temos maiores despesas quando a economia cresce pouco".

Pochmann evitou criticar diretamente a decisão do Copom. Disse ser cedo para fazer uma análise das conseqüências da interrupção na queda do juro, embora a medida tenha "evidente" repercussão sobre as decisões de investimentos dos empresários, que será sentida em 2008. "É preciso considerar qual será a decisão do Copom na próxima reunião", argumentou. "É o que demarcaria, para quem toma decisões, se o BC fez uma parada para avaliar e, depois, continuar reduzindo, ou, se de fato, é uma parada na queda das taxas".

"Nosso enfoque é o crescimento", disse Pochmann, ao defender que os atuais gastos equivalentes a 5,4% do PIB com funcionalismo não são problema fiscal. O presidente do Ipea divulgou estudo para mostrar que é grande a disparidade salarial entre empregados de maior rendimento e de menor renda. O estudo, baseado nos dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios, do IBGE, mostra, ainda, que a média dos salários do setor privado é 8,7% maior que a média do setor público.

"É preciso ter cuidado com essas comparações, esses salários não são comparáveis, são funções distintas", comentou Pochmann. A comparação serve apenas para mostrar que não teria fundamento afirmar que há excesso de gastos no setor público, argumentou. O estudo abarca todos os níveis do setor público, inclusive estados e municípios, e os dados referentes somente ao governo federal podem trazer salários bem maiores, por incluírem juízes, parlamentares e outros cargos de maior remuneração, reconheceu Pochmann.

Segundo o estudo do Ipea, a disparidade entre o salário mais alto e o mais baixo no setor privado, pela PNAD, chega a 1.714,3% (diferença entre R$ 120 mil e R$ 175,00, registrados na pesquisa. É uma diferença "injustificável", diz ele. "O crescimento é variável fundamental para reduzir as desigualdades, mas não é suficiente", comentou o presidente do Ipea.